quarta-feira, 30 de março de 2011

Sempre há uma razão para viver



Alguns vídeos têm o condão de elevar o espírito, assim como a boa literatura, a boa música e um abraço de amigo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Poesia: POUCAS LINHAS



POUCAS LINHAS


Para uma amiga doente


Poucas linhas bastaram
- e assim o fizeste.
Foram poucas as palavras necessárias
para que de olhos fechados
compadecido
sinta na carne tua dor
e enternecido,
reze uma prece silenciosa.

O corpo contorcido em espasmos
Os dentes rangendo na súplica da cura
A face tensa e enrijecida
a esconder a beleza
obnubilada pela fraqueza e pela labuta.

Repousas agora silenciosamente,
adormecida no leito
superando a impaciência e a inquietude
a imobilidade e a consciência da nossa fraqueza humana.

Seja paciente, minha querida!
Tenha confiança, minha musa!
Abrace a dor e ela partirá,
temerosa de sua vontade de caminhar.

Estende-me tua mão
Dê-me-la e eu correrei para o teu lado
Sorrindo, perto de ti.


terça-feira, 22 de março de 2011

Avião não é ônibus!


Enquanto Barack Obama preparava sua rápida passagem pelo Brasil, eu fiz uma rápida passagem pela terra do Obama. Foram dez dias no sul dos Estados Unidos, uma região que não conhecia e que me surpreendeu, mas este será temo de outros posts, afinal viajar é sempre uma experiência enriquecedora. 

Sou da opinião de que os EUA começam a norte de Orlando, ou seja, quem conhece só Miami e Orlando não conhece os EUA.  Não me levem a mal e não me entendam errado, adoro Miami, a verdadeira capital da América Latina – com todas suas coisas boas e ruins -, mas Miami não é a cara dos EUA. A língua oficial é o espanhol e há um enxame cada vez maior de brasileiros arruaceiros, aqueles que estão fazendo a primeira viagem de avião na vida e resolvem que tem que comprar tudo nos outlets, inclusive geladeira.

Morei 6 anos nos EUA, sendo 2 em Miami e fui com muita freqüência à cidade. Não estou sendo preconceituoso, mas há um certo protocolo para determinadas atividades, assim como há regras para comer, para tratar uma autoridade, para se vestir para um jantar ou uma festa de casamento.  Avião não é ônibus!

Tudo bem, você dirá, a culpa é das companhias aéreas. Concordo que elas têm grande parcela de culpa ao aglutinar os passageiros em assentos que mais parecem feitos para sessões de tortura do que para viagens intercontinentais, ao servir uma comida borrachuda e sem gosto, e por aí vai.

Isto porém não justifica a falta de educação dos brazucas. Depois desta última viagem conclui que o melhor é evitar passar por Miami, salvo se a cidade for o destino final. Desta vez fui por Dallas e encontrei um aeroporto enorme e excelente, além de que o tempo de voo é suficiente para dormir um pouco mais. Os colegas passageiros também são mais simpáticos e menos desesperados por comprar tudo que veem pela frente ou reclinar o encosto do assento antes da decolagem.

A nova realidade de renda do brasileiro e o dólar barato incentivam as viagens internacionais, o que é muito positivo, mas obrigam os viajantes mais educados a exercitarem a virtude da paciência durante a viagem e na volta à pátria amada, por que afinal, nossos aeroportos estão mais parecidos é com rodoviárias. Pelo visto, para a Infraero e para o governo, avião é um ônibus voador.


quarta-feira, 16 de março de 2011

The Naked and Famous




De vez em quando a itunes store nos presenteia com boas surpresas nos brindes semanais, que é o caso desta semana. Young Blood está disponível para download gratuito na itunes store americana nesta semana. Não conhecia a banda, mas o hit me pegou de jeito.

The Naked and Famous é uma banda neozelandesa. Seu primeiro álbum, Passive Me, Aggressive You, foi lançado mundialmente no dia 14 de março. Estourou na Nova Zelândia e vem fazendo sucesso na Inglaterra e Alemanha, principalmente no circuito das bandas independentes e de rock alternativo. A BBC indicou a banda para concorrer ao prêmio Sound of 2011.


Young Blood já fez parte da trilha sonora de diversos seriados e Punching in a Dream foi destaque no episódio 5 da 2a. temporada da série americana  The Vampire Diaries.

Escute e tenha sua opinião. Acho que você ainda vai ouvir falar neles. Mas leu aqui primeiro!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poesia: Epigrama para Emílio Moura, de Drummond





EPIGRAMA PARA EMÍLIO MOURA
de Carlos Drummond de Andrade

Tristeza de ver a tarde cair
como cai uma folha.
(No Brasil não há outono
mas as folhas caem.)


Tristeza de comprar um beijo
como quem compra jornal.
Os que amam sem amor
não terão o reino dos céus.


Tristeza de guardar um segredo
que todos sabem
e não contar a ninguém
(que esta vida não presta).

(Sentimento do Mundo. 7a. ed. Rio de Janeiro : Record, 1999, p. 71)


No dia da poesia, um pouco de Drummond.

domingo, 13 de março de 2011

Epígrafe - VIII


"O que permanece na vida são as imagens. Talvez por isso eu pense sempre no cinema, porque, como diz Hitchcock, é a vida sem as partes tediosas. E de imagens daqueles dias trago comigo muitas."

(Antonio Monda, Absolvição. trad. Joana Angélica d'Avila Melo. Rio de Janeiro : Objetiva, 2010, p. 173)


As alusões ao cinema se repetem ao longo do livro de Antonio Monda, o que não poderia ser diferente, considerando que o autor é professor de cinema, mas isto não faz com que a citação acima seja menos verdadeira. Acrescentaria que algumas imagens permanecem atreladas a odores, gostos e sensações que apenas uma imagem não consegue revelar.

terça-feira, 1 de março de 2011

Crônica: Bom dia!



BOM DIA!



As segundas-feiras não lhe eram simpáticas. Pesavam costumeiramente sem motivo algum. Não gostava delas por que não se sentia com grande disposição, geralmente cansado e desmotivado.  O dia se arrastava e, com o tempo, passou a tratá-las com desprezo, evitando compromissos importantes e tarefas que exigissem maior concentração ou simpatia. Isto não é grande novidade, pois este dia inicial da semana parece ser odiado pela grande maioria da raça humana.

Paulinho, por sua vez, era um sujeito sempre animado e motivado. Chegava na segunda rindo ou assobiando alguma música que ouvira no rádio, parecia que estava com o tanque cheio, transbordando energia e vontade. A atitude irritava Bruno e contribuía para tornar o começo da semana ainda mais pesado. Sentavam-se lado a lado, com apenas uma divisória baixa a dividir seus espaços de trabalho, um cubículo que se convencionou chamar de baia, e que fazia com que Bruno se imaginasse um cavalo indócil.

O “escritório” do vizinho continha frases motivacionais impressas e afixadas na divisória com alfinetes coloridos. Era um adepto deste tipo de técnica para superar a rotina e os momentos de pasmaceira da vida. Usuário ativo das redes sociais, compartilhava seu bom humor com todos, saudando o bom dia, vibrando com a chuva (que dizia renovar a terra de vida), alegrando-se com o sol matinal e a lua no começo da noite.  Bruno achava aquilo tudo falso, superficial, um disfarce para um interior vazio e ofuscado pelo otimismo. Porém, Paulinho era de fato um otimista e havia superado momentos difíceis com a perda da mãe na juventude num acidente de carro, algo que Bruno ignorava.

Paulinho era paciente e tentava animar o colega, sem importunar, pois tinha conhecimento do humor negro que rondava a baia às segundas-feiras. Fora este dia, Bruno era um cara legal, boa companhia, profissional dedicado e presença assídua aos happy hours das quintas.

Numa certa segunda, de trânsito muito bom, Bruno chegou quase meia hora antes do expediente e encontrou o escritório vazio. Usou o tempo livre para dar uma olhada no Facebook, algo que não ligava e não atualizava. Começou a percorrer os posts e parou quando viu uma mensagem de uma amiga: “Bom dia!”. Só isso. Largou o mouse, não conseguiu segurar o sorriso, apoiou o rosto sobre a mão direita e com o olhar brilhando, ficou a admirar a foto da amiga e a frase.

A beleza plástica das cores vibrantes o arrebataram. Ela estava linda com o mar azul ao fundo, um guarda-sol amarelo, a luz do dia ressaltando a paleta de cores fortes e quentes, acalmadas por um azul refrescante ao fundo. Não identificou a praia ou o lugar; isto pouco importava. O coração deu um leve solavanco e Bruno imaginou que o “Bom dia!” era exclusivamente para ele. Talvez fosse, pensou de forma presunçosa. Ela sorria com gosto, exalando uma alegria que brotava do interior e o fisgou naquela manhã que parecia iniciar mais uma segunda-feira igual a todas as outras. Esta era diferente. Despiu-a dos óculos escuros para contemplar os olhos castanhos e tentar decifrar o que se passava na mente da amiga. Um olhar que o encarava sorridente. Desejou tocar aquela face que o intimidava, quase que o repreendendo carinhosamente por desperdiçar um dia com rabugices. 

Passaram-se alguns minutos, talvez muitos. Debaixo da mensagem acrescentou um comentário:

“Quer almoçar comigo? Eu convido!”