BOM DIA!
As segundas-feiras não lhe eram simpáticas. Pesavam costumeiramente sem motivo algum. Não gostava delas por que não se sentia com grande disposição, geralmente cansado e desmotivado. O dia se arrastava e, com o tempo, passou a tratá-las com desprezo, evitando compromissos importantes e tarefas que exigissem maior concentração ou simpatia. Isto não é grande novidade, pois este dia inicial da semana parece ser odiado pela grande maioria da raça humana.
Paulinho, por sua vez, era um sujeito sempre animado e motivado. Chegava na segunda rindo ou assobiando alguma música que ouvira no rádio, parecia que estava com o tanque cheio, transbordando energia e vontade. A atitude irritava Bruno e contribuía para tornar o começo da semana ainda mais pesado. Sentavam-se lado a lado, com apenas uma divisória baixa a dividir seus espaços de trabalho, um cubículo que se convencionou chamar de baia, e que fazia com que Bruno se imaginasse um cavalo indócil.
O “escritório” do vizinho continha frases motivacionais impressas e afixadas na divisória com alfinetes coloridos. Era um adepto deste tipo de técnica para superar a rotina e os momentos de pasmaceira da vida. Usuário ativo das redes sociais, compartilhava seu bom humor com todos, saudando o bom dia, vibrando com a chuva (que dizia renovar a terra de vida), alegrando-se com o sol matinal e a lua no começo da noite. Bruno achava aquilo tudo falso, superficial, um disfarce para um interior vazio e ofuscado pelo otimismo. Porém, Paulinho era de fato um otimista e havia superado momentos difíceis com a perda da mãe na juventude num acidente de carro, algo que Bruno ignorava.
Paulinho era paciente e tentava animar o colega, sem importunar, pois tinha conhecimento do humor negro que rondava a baia às segundas-feiras. Fora este dia, Bruno era um cara legal, boa companhia, profissional dedicado e presença assídua aos happy hours das quintas.
Numa certa segunda, de trânsito muito bom, Bruno chegou quase meia hora antes do expediente e encontrou o escritório vazio. Usou o tempo livre para dar uma olhada no Facebook, algo que não ligava e não atualizava. Começou a percorrer os posts e parou quando viu uma mensagem de uma amiga: “Bom dia!”. Só isso. Largou o mouse, não conseguiu segurar o sorriso, apoiou o rosto sobre a mão direita e com o olhar brilhando, ficou a admirar a foto da amiga e a frase.
A beleza plástica das cores vibrantes o arrebataram. Ela estava linda com o mar azul ao fundo, um guarda-sol amarelo, a luz do dia ressaltando a paleta de cores fortes e quentes, acalmadas por um azul refrescante ao fundo. Não identificou a praia ou o lugar; isto pouco importava. O coração deu um leve solavanco e Bruno imaginou que o “Bom dia!” era exclusivamente para ele. Talvez fosse, pensou de forma presunçosa. Ela sorria com gosto, exalando uma alegria que brotava do interior e o fisgou naquela manhã que parecia iniciar mais uma segunda-feira igual a todas as outras. Esta era diferente. Despiu-a dos óculos escuros para contemplar os olhos castanhos e tentar decifrar o que se passava na mente da amiga. Um olhar que o encarava sorridente. Desejou tocar aquela face que o intimidava, quase que o repreendendo carinhosamente por desperdiçar um dia com rabugices.
Passaram-se alguns minutos, talvez muitos. Debaixo da mensagem acrescentou um comentário:
“Quer almoçar comigo? Eu convido!”
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