segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fechando o círculo



Os últimos posts acabaram sendo temáticos. Não há mensagem subliminar, mas um exercício criativo inspirado pelo livro do Milton Hatoum que estou lendo. Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras, 2008) lida muito com o silêncio e o olhar, levando o leitor a suspeitar que Dinaura, amada por Armindo, não passa de alucinação ou de uma lenda das águas do rio.


Estes trechos ilustram um pouco a questão:


"A gente quer entender uma pessoa, só encontra silêncio." (p. 47)


"E me acostumei com o silêncio, com a voz que eu só ouvia nos sonhos." (p. 41)


"Foi um namoro silencioso. Às vezes, eu escutava a voz de Dinaura nos sonhos. Uma voz mansa e um pouco cantada, que falava de um mundo melhor no fundo do rio. De repente ela ficava muda, assombrada com alguma coisa que o sonho não revelava." (p. 41)


"Esperava com ânsia o sábado seguinte, e me rendia ao olhar de um rosto calado."


O silêncio parece ser algo reprovável no mundo moderno. Há um temor generalizado da ausência de ruído, mas é no silêncio que conseguimos ouvir nossos sentimentos e pensamentos mais íntimos. O silêncio é a porta para o mundo interior, para um mundo de auto-conhecimento. Aprendi a valorizar o silêncio, aprendi a ouvir o silêncio.


Vinicius de Moraes, no poema A TARDE, expressa isto de forma típica de um grande poeta: Meu espírito te sentiu. Só no silêncio podemos sentir o outro, apreciar o outro, prestar atenção no outro.


Com este post fecho o círculo temático, mas não tenho dúvida de que vez por outra, o tema voltará a frequentar este blog.

5 comentários:

Simone disse...

vc acha reprovável no mundo de hoje? eu não acho, não. acho que, na verdade, ngm para pra pensar nisso. acho que deveríam. eu adoro silêncio, principalmente pq morei sozinha 5 anos. quando eu fazia yoga era o que eu mais gostava...o silêncio, a concentração. ai, que delícia! acho que as pessoas não conseguem ficar quietas, rsrsrs

Renato disse...

Simone,
Não acho o silêncio reprovável não. Mas tenho a impressão de que o sentimento comum é nesse sentido. As pessoas fogem do silêncio.

Margarete Bretone disse...

Concordo com você, Renato, tem hora que a gente tem que parar e ouvir o silêncio. E é tão bom...

Abraços

Simone disse...

hum, agora entendi! valeu!

Edna Federico disse...

Tenho acompanhado esses dias todos seus posts sobre entender a outra pessoa através do silêncio e também lido os comentários. Só tive tempo de comentar agora, porque queria fazer com calma.
Realmente é uma delícia quando encontramos uma pessoa com a qual temos essa sintonia, de saber e sentir o que o outro está pensando ou quer só pelo olhar. Muitas vezes o silêncio diz muito...
Mas, também tenho uma outra visão sobre o assunto.
Quando essa comunicação telepática se torna muito frequente, a relação corre um risco...de sempre acharmos que a pessoa sabe aquilo que queremos, que esperamos, consegue entender?
Quando algum dia essa comunicação falhar, por qualquer motivo, a relação pode ser ameaçada por cobranças...ou então por afastamento.
Gosto de ter essa telepatia, mas acho fundamental falar e ouvir.
Desculpe o comentário longo