Não fiquei surpreso quando, outro dia, meu filho disparou a seguinte crítica ao livro que lia:
- Pai, este livro está errado! Olha, escreveram “o velho biruta” e deveria ser “o velho biruto”.
Expliquei-lhe que biruta não se flexionava com o gênero e ele compreendeu, mas uma criança de 7 anos reparar e observar a concordância correta fez-me ter a certeza de que a educação que recebe na escola está no caminho certo.
Algo muito diferente propõe o MEC.
A recente polêmica acerca do livro Por uma Vida Melhor, de Heloísa Ramos, demonstra que o MEC, sob o comando do ministro Fernando Haddad transformou-se em um braço governamental de minorias e grupos de interesse que querem impor sobre toda a sociedade sua visão de mundo. O MEC tem permanecido nas manchetes por más razões e não por elogios e conquistas louváveis. Apenas para refrescar a memória, tivemos os problemas com o ENEM por dois anos seguidos e a questão envolvendo o kit anti-homofobia, que na verdade é um kit de propaganda e proselitismo de alternativas sexuais.
Voltemos ao caso do livro em questão.
O livro foi publicado pela Editora Global, mas é um projeto de uma ONG denominada Ação Educativa. Segundo Ruy Castro, foram publicados mais de 4 milhões de exemplares e a autora recebeu em torno de R$ 700 mil a título de direitos autorais. Estes números fogem à regra do mercado editorial brasileiro e superam valores recebidos por escritores como Paulo Coelho.
A ONG, mãe do projeto, recebe recursos de instituições estrangeiras para financiar suas atividades e o site da entidade elenca seus dirigentes, em princípio, todos com excelente currículo. Porém, currículo não é sinônimo de imparcialidade e acima de ideologias. Sua Nota Pública não convence.
A problema fundamental é que o livro sugere que certas normas gramaticais podem ser desrespeitadas, como se isto fosse admissível na linguagem culta e escrita. A autora se defendeu argumentando que a questão estava fora de contexto e que as pessoas não haviam lido o capítulo. O MEC, como de costume, calou-se e não deu satisfação à sociedade. A comissão da UFRN que aprovou o livro fez o mesmo, talvez inspirada na nossa Rainha Muda, a zeladora de plantão que cuida do governo durante o período sabático de Lula, como tem reiterado Reinaldo Azevedo (Aliás, sobre a polêmica vide post de Reinaldo Azevedo).
Então, vamos ao livro e analisemos o que está escrito. O capítulo pode ser lido aqui (link para downloado do capítulo em pdf). Na página 15 está escrito:
"Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião." (o negrito está no original)
Há dois problemas graves neste parágrafo: o erro e o fundo ideológico por detrás do ensino do idioma.
O erro é flagrante. VOCÊ SÓ PODE FALAR ‘OS LIVRO’ QUANDO ESTIVER ERRADO! Não há outra alternativa, não há meio certo, não há ocasião adequada – falada ou escrita – para utilização da frase desta forma, salvo se o escritor estiver utilizando um discurso de um personagem que fala errado.
A transgressão como recurso narrativo é viável, faz parte da evolução artística e literária, mas isto não é aplicável para um aluno de ensino fundamental! A escola deve ensinar o certo, ou seja, a norma culta da língua. E o livro de Heloísa Ramos propõe algo muito diferente do certo.
A outra questão refere-se à expressão preconceito linguístico. O livro tenta impor o “lulês” como linguagem corrente no país, como equiparada à norma culta da língua. Se as pessoas falam de forma errada, a escola tem a função de corrigir o erro. O livro criou a categoria da pessoa que sofre de bullying por falar errado, uma nova minoria que fala errado e que em breve ganhará talvez uma secretaria especial, um programa de quotas ou alguma bolsa-analfabeto. E o MEC terá servido como instrumento ideológico de uma linha de pensamento minoritária.
O parágrafo transcrito tem características panfletárias, como se a incitar o falante do português errado a resistir ao preconceito linguístico. Não há incentivo à correção do erro, havendo uma inversão de valores onde o erro deve servir como instrumento de luta contra um preconceito. É a luta de classes de Marx transposta para o plano linguístico. E a professora Heloísa Campos sustenta que o “proletário” deve resistir e sem educação formal e correta, a consequência será sua manutenção na qualidade de proletário e oprimido pela elite e pelo capital.
O idioma de um país é uma característica da unidade do povo. As variações regionais são enriquecedoras do idioma e do dinamismo da língua, porém criar divisões entre norma culta e norma popular, numa clara divisão de classes consagram o fracasso do sistema educacional brasileiro. O MEC, ao aprovar este livro e esta linha de pensamento, dá sinais inequívocos de que a educação no Brasil é meramente pró-forma, ou seja, não há preocupação em educar, mas apenas em informar e manter o status quo.
O aspecto ideológico que emana do citado livro é prova inquestionável de que o ministro comanda um ministério refém de minorias que tentam conquistar feudos e criar guetos com um processo de divisão na sociedade brasileira, algo tão patente nos discursos eleitorais de Lula e de sua sucessora.
O MEC precisa ser refundado, passar por um processo de revisão de funções, ou seja, o MEC precisa se preocupar com a educação no Brasil e não em ser instrumento de grupos de interesse que apóiam o projeto de loteamento do país a que se propõe o PT.
Eu continuo defensor e amante da nossa língua portuguesa, escrita e falada de forma correta e com todos os plurais e regras de concordância.