segunda-feira, 3 de março de 2008

As flores e Drummond

Foi numa reportagem de jornal, que trazia cenários paulistanos que serviram de local para filmagem de filmes brasileiros, que me deparei com um poema do passado. O cenário era a Livraria Francesa e o protagonista do filme - não me recordo o nome - lia o poema Campo de Flores, de Carlos Drummond de Andrade. Na Livraria Francesa, encontraria apenas a versão francesa: Champs du Fleurs.

Vasculhei a estante atrás de minha antologia de Drummond e encontrei o poema, transcrito no post anterior. "Deus me deu um amor no tempo de madureza". As palavras soaram-me familiares, mas no tempo de juventude aquele início de verso não me dizia nada. Como poderia o amor no tempo de madureza ser diferente do amor no tempo de juventude? Seria tão belo e forte, seria tão intenso e mágico?

No "tempo de madureza", ao reler o belo poema, comecei a compreender melhor onde o poeta queria chegar.

"Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram."

As manhãs sorriem para o poeta, a vida sorri para o poeta. O poeta descobre a poesia na vida, nas coisas simples, na beleza da manhã, na claridade que míngua numa bela tarde, no silêncio da noite enluarada e no céu acarpetado por estrelas. O barco à deriva, sem rumo, "a rosa indecisa", ganha novo impulso e ânimo, o coração a bater em ritmo acelerado, o sorriso a brotar de forma espontânea.

"Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis."

Como foi comentado pelo R Lima no post anterior, onde não há jardim, a semeadura é feita de forma surpreendente. Nâo há necessidade de terra. A semente dormente aguarda a chuva para germinar, e germina de forma inesperada, quase fruto do acaso, fruto do destino. O improvável acontece e a vida é tingida de cor, como numa tela, onde o pintor revela o campo florido aos poucos. Ainda que tardia, ainda que na madureza, a descoberta revigora a alma.

Ma fleur! Onde não há jardim, as flores são cuidadas nos vasos e agradam a todos os sentidos. E sempre surpreendem.

2 comentários:

Kátia Barros disse...

Que texto inspirador!!!!!!! Como sementes jogadas nos campos inférteis ou em pequenos vasos, sempre podemos nos transformar em lindas rosas... Basta ter a ânsia da vida, a vontade de sobreviver, a garra e a coragem para superar todos as adversidades. Grande beijo pra vc! sua amiga blogueira Kátia

Edna Federico disse...

Belo poema e também belo post!
Acho que ao longo de nossa vida é possível ter alguns amores...mais ou menos intensos, mais ou menos puros, mas todos tem sua importância.
Acredito que todas as pessoas que passam pela nossa vida e nos despertam sentimentos especiais, devem ser guardadas com muito carinho.
Beijo