terça-feira, 29 de maio de 2012

Lulamente


Nossa modesta contribuição de um novo verbete para as próximas edições dos dicionários de língua portuguesa.

LULAMENTE (lu.la.men.te) - 1. adv. modo - maneira ou jeito de ser malandro, mentiroso, chantagista, aproveitador, cara de pau, hipócrita. ex.: Lulamente conseguia pressionar todos ao seu redor. 2. subst. m. -  postura de superioridade, arrogância; diz-se do sujeito que acha-se acima do bem e do mal. ex.: Portava-se lulamente e tratava os demais com desprezo. 3. união do nome próprio Lula (ex-presidente do Brasil) e do verbo mentir no presente do indicativo, cujo significado pode ser sintetizado na expressão de que o partido e os "cumpanheiros" estão acima de tudo e de qualquer instituição, menos a bolada oriunda de consultoria a empresas que prestam serviço para o governo.



A triste síntese deste caso é o desrespeito pelo Estado Democrático de Direito e suas instituições. Se Lula não mentiu, então por que não convoca uma entrevista coletiva, ele que tanto gosta de discursar e dar lição de moral? 

Se o mensalão não existiu, por que Lula se esforça tanto para que o Supremo não julgue o processo e os crimes sejam declarados prescritos?

Se Lula não teme a justiça, por que nomeou Toffoli para o STF, advogado de seu partido e fiel cãozinho?


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Café e mais café

No dia do café, uma série fotográfica para comemorar.

Equilíbrio


Cafezal em Minas Gerais



Espresso doppio
Sem pó


Obs: Todas as fotos foram tiradas pelo editor do blog. Quer copiar, cite a fonte!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Uma pergunta de Luiz Felipe Pondé


"Este assunto me interessa pouco, por isso vou falar pouco nele. Minha intenção aqui é simplesmente fazer uma pergunta: se a ditadura brasileira matou tanta gente da esquerda, por que, ao terminar a ditadura, a cultura como um todo ( professores, mídia, literatura, filosofia, ciências humanas, artes, os principais partidos políticos) se revelou completamente de esquerda?

Independentemente do fato de que ditaduras são horríveis, a brasileira não liquidou a esquerda como se fala por aí. E mesmo os tais guerrilheiros lutavam por uma outra forma de ditadura. Tivesse a guerrilha de esquerda vencido a batalha, nós acordaríamos numa grande Cuba. A ditadura, de certa forma, nos salvou do pior."

(Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. São Paulo : Leya, 2012, p. 176)

O recente livro de Luiz Felipe Pondé é politicamente incorreto, provocador e divertidíssimo. Em tempos de Comissão da Verdade, achei a citação pertinente. Verdade para quem? Soa-me como algo extraído do livro de George Orwell, o clássico 1984 que vou reler pela terceira vez.

WAR IS PEACE
FREEDOM IS SLAVERY
IGNORANCE IS STRENGTH

Três frases antagônicas que eram o slogan do Partido. Antíteses que tinham por função confundir e manter o povo na ignorância, afinal a ignorância era a força, o poder. A implementação da política do Partido ficava a cargo do Ministério da Verdade (Ministry of Truth, no original).  Alguma semelhança com o Brasil de hoje?

Não me agrada nem um pouco qualquer tentativa de rever a lei de Anistia. Já escrevi sobre isto no passado. A ditadura brasileira foi exatamente isto "à brasileira", light, avacalhada, malemolente. Nem a ditadura neste país conseguiu ser séria. Morreu gente? Sim, morreram muitos, mas menos do que em outros países. O contexto histórico era outro e o clima político era de confronto, de guerra. E durante uma guerra certas medidas são justificáveis. 

Concordo com Pondé: "a ditadura, de certa forma, nos salvou do pior."


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Conto: Biscoito da Sorte




BISCOITO DA SORTE

Saiu do escritório pouco antes das dezoito horas, como de costume. Amuada, passos lentos e pesados, olhar opaco e distante, um cansaço tomara-lhe o ser. Algo que não era de hoje, mas que se acumulara nos últimos tempos, talvez uma fase passageira, mas que teimava em não dissipar. Seu estado de espírito contrastava com a tarde quente e clara, de céu azul intenso e instigante, tão típico daquela época do ano.

 Ela, porém, nem notou.

Caminhou dois blocos e parou numa cafeteria simpática, onde refugiava-se ao final do expediente e antes de enfrentar os constantes reclamos da mãe. O trabalho era um momento de puro esquecimento. Havia tanto por fazer, o ritmo tão corrido, que raramente deixava os problemas pessoais afetarem seu dia a dia. Sua cabeça ocupava-se com a rotina do escritório sem deixar recantos mentais para o desânimo. Lidava com os gracejos mais ousados – alguns de mau gosto – com maestria e habilidade, sem deixar-se levar ou irritar. Era ágil e expedita, eficiente e altamente produtiva. Escondia-se por detrás da rotina e não deixava a menor sombra de dúvida sobre o que lhe afligia. Para todos do ambiente profissional, para os colegas de trabalho, a vida para ela era um mar de rosas. Tinha tamanho autocontrole no trabalho e apresentava uma aparência irretocável. Não que fosse dissimulada. Ela gostava do que fazia, apenas separava o trabalho da sua vida pessoal. Odiava intromissões e mexericos.

O trabalho era seu refúgio seguro, sua rotina a invadir e afastar qualquer pensamento que lhe pudesse causar-lhe mais insônia ou agravar a gastrite.

Pediu um chá mate com limão com bastante gelo no copo. O garçom, prestativo, mas formal, deixou o copo alto sobre a mesa sem lhe dirigir a palavra e deixando-a imersa em seus pensamentos. O copo suava, transpirava em pequenas gotículas. Percorreu a borda do copo com um dedo, descendo e cortando a camada uniforme de pequenas gotas. Parou no meio do copo. Formara-se uma gota maior que empurrou as demais e desceu pela lateral do copo. Uma lágrima não derramada por ela, mas pelo ser inanimado diante dela. A lágrima, lenta e sinuosa, foi trilhando seu caminho até formar uma poça na mesa.

Ao brincar com o copo, reparou que não havia feito as unhas.  Mal sinal. Toda vez que não comparecia à sessão semanal na manicure e deixava as unhas sem esmalte, pouco cuidadas, era um indício claro de que algo a incomodava. Desta vez havia sido a dor na região lombar agravada por um sentimento inexplicável de depressão.  O desânimo invadira-lhe a alma de tal forma, que a rotina se tornara pesada. Seria a idade a responsável por estes períodos mais frequentes de mergulhos introspectivos? Por onde andava a alegria jovial que lhe dominara nos anos anteriores? Em plena primavera carioca, o sorriso lhe escapava.

O olhar continuava longe, ausente. Consultou o relógio e ainda tinha um pouco de tempo antes de enfrentar o metrô e uma rápida visita na casa da mãe, que sabia não seria rápida nem agradável.

O celular tremeu na bolsa e ela meteu a mão a caçar o aparelho. Pescou um pequeno pacote branco com um biscoito da sorte, sobremesa que guardara do almoço no restaurante chinês. Provocada pela curiosidade, abriu a embalagem, quebrou o docinho ao meio e puxou a mensagem.

“Não prives o mundo do teu sorriso. Se não consegues sorrir, volte seu olhar para quem te faz sorrir e deixe-se contagiar.”

O olhar ganhou brilho. Respirou fundo, tomou um gole do chá e contemplou o céu pela janela. 


terça-feira, 15 de maio de 2012

Falta de assunto?


Há um aparente silêncio neste blog, não por falta de assunto, mas por falta de silêncio. Sim, meu caro amigo, falta de silêncio. Contraditório? Explico-me.

Sou advogado e o grande calvário de todo advogado militante são os prazos. Os prazos, na maioria das vezes, não podem ser prorrogados. Se um prazo não for cumprido, o prejuízo é quase certo: para a parte envolvida e para o advogado que responderá por omissão e negligência. 

Andei assoberbado de prazos - o que é bom por um lado, ruim por outro - e o silêncio de que tanto necessito para escrever evaporou. O blog ficou silencioso, sem textos. Os textos ficaram fervilhando na minha cabeça, numa revolta constante para saltar para o papel ou a tela do computador. 

Preciso do silêncio para mergulhar no texto, algo parecido com o que é feito no texto técnico jurídico, mas com conteúdo muito diverso. Outro dia ouvia um especialista em produtividade no ambiente de trabalho dar uma entrevista no rádio e sugerir que as pessoas somente olhem seus emails 4 vezes ao dia. Faço isto há alguns anos. Evito a distração dos constantes emails que chegam, sendo que a maioria é lixo. Quando preciso redigir alguma petição ou defesa, tranco-me na minha sala, não atendo os telefones e não respondo email. A imersão é total para não atrapalhar o fio da meada.

Porém, quando dou asas aos meus devaneios de final de dia - ou de começo de dia, ou de meio de dia -, basta a inspiração e deixá-la ganhar corpo. Muitas vezes só tenho a primeira frase e o resto vem com a inspiração. Ignácio Loyola Brandão escreveu certa vez que se a inspiração não vem, caminhe pelas ruas e observe. A inspiração voltará. Sigo este conselho do escritor paulista. Por vezes os textos demoram a ganhar corpo, mas esforço-me para que não se percam no vazio.

Dito isto, vou aproveitar a quietude da noite fria e deixar que as palavras ganhem corpo.


sábado, 12 de maio de 2012

A mulher invisível

Neste dia das mães, este blog recorre a um excelente vídeo que assisti recentemente. Há certos textos que não devem ser recontados, nem resumidos: devem ser transcritos no original. Eis nossa homenagem a todas as mães: àquelas presentes e àquelas que já deixaram este mundo, após concluírem sua obra e seu tempo nesta terra.

Parabéns a todas as mães!!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sacolinhas plásticas, plano de saúde e o politicamente correto


Entro no elevador do prédio do escritório e fico a ler o monitor com notícias e propagandas. Agora até o curto trajeto de elevador está ocupado pela propaganda e pela informação. Deparo-me com algo no mínimo curioso: Guia para uso consciente do plano de saúde. Sim, meu caro leitor, a Sulamérica lançou um manual para o segurado não abusar do seguro. Não acredita, leia aqui. Fiquei imaginando o que há por detrás desta campanha. Claro que deve haver uma série de informações técnicas úteis, mas também deve ter aqueles anúncios sobre atrasos nos pagamentos, multas e juros, desligamento do plano, coberturas apenas as previstas em lei, prazos para atendimento etc. 

Mas quando se fala em uso consciente, fiquei pensando numa campanha do tipo: "não fique doente, não use abuse do seu plano" ou "não faça exames desnecessários, você pode tirar a vez de quem realmente precisa do exame." Há uma seção no site sobre o uso consciente que trata de fraude contra seguro e lavagem de dinheiro. 

Agora pergunto-me: por que não uma seção sobre a concessão consciente de tratamentos e coberturas pelo plano de saúde? Por que não incluir uma seção sobre a conduta de boa-fé dos planos de saúde? Ou ainda, por que o plano não dá o exemplo e aceita a cobertura primeiro, para cobrar e discutir depois?

Em matéria de plano de saúde, a regra é negar a cobertura do tratamento para o segurado. A grande maioria não discute e simplesmente arca com o custo. Aqueles que recorrem ao judiciário conseguem a cobertura, mas dificilmente obtêm a indenização devida. No Estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça não tem condenado os planos de saúde por danos morais ao negar coberturas previstas contratualmente. O resultado é o enriquecimento ilícito dos planos de saúde. Eles negam a cobertura e só cobre o tratamento se houver ordem judicial, mas mesmo assim, não tem que indenizar o segurado por todos os tormentos causados. A atual conduta do judiciário incentiva os absurdos cometidos pelos planos de saúde. Este guia do uso consciente é um exemplo claro da postura dos planos de saúde.

A praga do politicamente correto tenta ludibriar o segurado com uma linguagem escorregadia e enganosa.

Basta ver outro exemplo: a campanha do Itaú com o slogan "vamos jogar bola". A campanha não fala em vamos trabalhar, vamos ler um livro, vamos estudar, vamos arregaçar as mangas. Não! A campanha sugere que deixemos tudo de lado e vamos jogar bola, tomar uma cervejinha, deixar os problemas para amanhã. Suor, só no campo; suor do trabalho não vale a pena.

O mesmo se aplica às sacolinhas plásticas que se tornaram as únicas vilãs da poluição no mundo. O plástico é o culpado pelo aquecimento global (que já está sendo revisto), pelas enchentes, pela saturação dos aterros etc. Economizam os supermercados que habilmente conseguiram enganar o consumidor com o argumento da sustentabilidade. Deixam de gastar com embalagens plásticas sob o argumento de que estão protegendo o planeta. Por outro lado passam a vender mais sacos plásticos para lixo e sacolas de pano. 

Uma pergunta: por que os supermercados podem vender sacos plásticos para lixo e não podem distribuir sacolinhas nos caixas? Qual das duas não polui? E os preços nos supermercados, vão baixar? E o Procon? E o MP? Calaram-se todos. E aí de quem critica o fim das sacolinhas plásticas. Pois bem, eu sou contra o fim das sacolinhas plásticas e deixo isto muito claro toda vez que vou ao supermercado. 

Outro dia, uma operadora de caixa constrangida com meu discurso foi surpreendida com a pergunta: "Aumentaram seu salário com o dinheiro que economizam com as sacolinhas?" Acho que ela nunca tinha pensado nisso, mas a senhora que estava atrás de mim já tinha percebido a malandragem dos donos dos supermercados.

É preciso preservar o planeta, mas não aceito que me façam de otário!

sábado, 5 de maio de 2012

O Estagiário


Uma entrevista sincera em que o estagiário abre sua alma e revela a mais pura realidade. Atenção especial para a parte final.