terça-feira, 10 de junho de 2008

Perspectiva e idade

Foi numa palestra sobre cinema e as emoções na educação dos filhos na escola de meus filhos, que revi uma cena sensacional do filme Sociedade dos Poetas Mortos. Robin Williams, que interpreta um professor de literatura, dá sua primeira aula em uma escola particular britânica. Pede que um aluno leia o início do livro texto. Enquanto a aluno lê o texto, o professor desenha um gráfico na lousa, uma representação matemática do que seria a poesia e de como interpretá-la. O professor escuta pacientemente a baboseira escrita por um PhD em literatura, que somente via fórmulas matemáticas nos textos poéticos. Racionalidade pura, onde impera o irracional, a paixão, as emoções, uma visão diferenciada.

O professor, então, calmamente, diz que tudo que acabaram de ler era lixo e ordena que os alunos arranquem aquelas páginas iniciais do livro. Os alunos, estupefatos, seguem a ordem temerariamente. Aflitos por quebrarem a ordem e a disciplina imposta, reticentes em seguirem o caminho pouco ortodoxo proposto por aquele docente. O professor quebra paradigmas, e mesmo diante de alunos desconfiados, conquista a confiança e a amizade dos alunos. O professor propõe que os alunos "olhem" a poesia sob outra perspectiva, com um outro olhar.

Em outra cena do filme, para exemplificar o que isto quer dizer, sugere que os alunos subam nas mesas, que fiquem mais altos, que de cima das mesas lancem seus olhares para o mundo, que parece ser reduzido, diminuído, alterado. Olhar de fora, de longe. Olhar com óculos especiais que permitem esta nova perspectiva.

Aonde quero chegar com esta divagação? A idade nos dá uma nova perspectiva. Quando fazemos aniversário, há dois sentimentos que se misturam, principalmente quando se ultrapassa os 30. Um sentimento de alegria e de sobrevivência, um sentimento de que seguimos firmes na jornada da vida. Ao mesmo tempo, e em muitos casos, um sentimento de perda, de fracasso, de desânimo. Sente-se o peso dos anos.

Este sentimento de desânimo, de perda de tempo, de fracasso, não nos pode impedir de renascer, de recomeçar, de rejuvenescer. Se um relacionamento se desgastou ou desmoronou, o tempo não foi perdido. O tempo foi de aprendizado. A vida parece nos revelar certas coisas somente com o passar dos anos. É o tempo, os anos nas costas, que nos conduz a relatar segredos, a desmascarar medos e angústias.

A juventude nos dá muita coragem, mas pouco juízo e muito pouca informação. O aprendizado vem com a vida, com a experiência. E isto vale para tudo: para a vida profissional, para a vida amorosa, para a maternidade/paternidade. Só com o tempo, com outra perspectiva ao lançarmos uma revisão sobre o passado, é que podemos entender muitas coisas. Não há erro naquilo que erramos por desconhecer. Ninguém tem bola de cristal. A vida ensina. A vida é reveladora e cheia surpresas. Culparmo-nos por erros ou porque aparentemente perdemos tempo é um equívoco. Todos erramos e sempre há tempo para corrigir os erros, para mudar o rumo, para fazer novas escolhas.

"Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima" diz a letra do samba. Para isso é que existem amigos e aquelas pessoas especiais que estão sempre ao nosso lado. Ainda que em outra cidade.
Para quem gostou do assunto, veja também o post Reflexão Pascal.

4 comentários:

Edna Federico disse...

É verdade, não há erro quando erramos por desconhecer...o problema é que tem gente que comete o mesmo erro várias vezes, não se esforça por melhorar, não aprende com a experiência.
A maturidade nos traz muita coisa boa. Realmente é ambíguo, ficamos felizes pelo que conquistamos e tristes por ver como está passando rápido. Outro dia vi a Marília Gabriela falar: " é muita crueldade meu corpo envelhecer quando na mente ainda me sinto tão jovem."
Falando de relações passadas, acho muito triste quando uma pessoa fecha totalmente a porta do seu passado, esquecendo os momentos bons que teve junto à alguém. Numa relação sempre temos o bom e o ruim...e não é verdade quando dizem que não deu certo...deu certo até quando tinha que dar.
Beijo

Lila Rose disse...

Como tão bem disse Cora Coralina, "o saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da Vida".

Excelente texto.
O filme, um dos meus preferidos.

Bisous.

Margarete Bretone disse...

O importante é ter a consciência que todas as experiências vividas, mesmos que erradas, foram enriquecedoras,nunca ter vergonha do passado e tampouco de recomeçar. Independentemente da idade.

Anônimo disse...

OLÁ! Encontrei este blog 'garimpando' textos sobre maturidade. Interessante o filme citado neste post e o texto sobre juventude, bem como os comentários emitidos. Se possível, visite o meu blog Arte Brasilis, que se propõe a uma coleta seletiva de vídeos, textos e imagens.

Link:
http://arte.brasilis.zip.net/arch2008-06-22_2008-06-28.html#2008_06-24_19_52_58-126697123-0

saudações,
Vera~ArteBrasilis