segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres, mulheres...

A Família, Tarsila do Amaral

Se estivesse no mundo

ou fora do mundo...?
Mas que lhe respondo,
se o Arcanjo pergunta,
num tempo profundo?

No mundo passava:
porém muito longe.
Por sonhos e amores
me desintegrava.

O mundo não via:
minha permanência
foi, por toda parte,
fantasmagoria.

Dava, mas não tinha.
E, nessa abundância,
nada me ficava:
nem sei se fui minha.

Se estivesse no mundo
ou fora do mundo?
- Assim me apresento,
se o Arcanjo pergunta
meu nome profundo.”

Cecília Meirelles
(Canções. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2005, p. 24-5)



No dia internacional da mulher, tracei a meta de escrever um texto especial para homenagear a todas as mulheres. Fugir do lugar comum. Eis meu objetivo. Poderia dar um tom social ao texto e bradar contra as desigualdades, as injustiças, a violência, o preconceito, a opressão, o sofrimento pelo qual tantas mulheres enfrentam diuturnamente ao redor do mundo. Não me omito quanto a isto tudo, mas vou deixar as palavras festejarem as mulheres no dia de hoje.

Palavras e mulheres. Palavras lançadas pela ótica feminina, escritas pela pena feminina. Protagonistas de estórias contadas e poesias sublimes de delicadeza ímpar. Mulheres escritoras. Vou louvar minhas diletas escritoras, que me ensinam a olhar a palavra de outra forma, que ensinam a olhar – e ver – a mulher com toda a beleza e encantamento que Deus lhe deu. Digo olhar, pois compreender a alma feminina parece estar aquém da minha limitada inteligência. E isto é bom, pois o mistério sempre permanece, a curiosidade sempre resta aguçada. Alma complexa a feminina.

Seria Clarice Lispector o melhor espelho da alma feminina com seus textos, com sua melancolia, com sua perplexidade diante da vida, com seus questionamentos constantes?

Seriam Cecília Meirelles e Cora Coralina o melhor retrato da doçura e da ternura feminina, da entrega da mulher, do sacrifício de quem se dá quando aparenta nada ter?

Lygia Fagundes Telles que mistura a realidade da memória com a ficção e deixa lições de vida através de personagens. Ou seriam todos os personagens um pedaço da escritora?

Tatiana Salem Levy, em sua obra de estréia A Chave de Casa, capta esta complexidade feminina. Forte, guerreira, determinada, impassível, corajosa, dedicada. Frágil, meiga, dócil, temerosa, cândida. Momentos distintos da mesma mulher. Adjetivos que se sucedem e se alternam.

Exaurir a alma feminina deve ser impossível. Deus deve ter querido assim. Fê-lo como presente aos homens que se superam em descrições, poemas, textos, músicas, pinturas, que festejam este ser esplendoroso que é a mulher, fonte inesgotável de inspiração e de beleza insuperável.

Parabéns a todas as mulheres no seu dia.

Um comentário:

Marcia disse...

Renato,
obrigada pelo comentario na Roupa do Rei. Gostei muita da sua homenagem no dia da mulher. Posso acrescentar Rosa Monteiro, a escritora espanhola que nos conta a estoria de Leola jovem camponesa no seculo XII na França que se depara varias vezes com um misterio ao longo de sua tragetória: A Historia do Rei transparente, que dá título ao livro.
Abraço