quarta-feira, 17 de março de 2010

Crônica: Presságio




PRESSÁGIO

A música começou a tocar no rádio do carro. Ele desligou completamente do mundo, transportado para um túnel onde somente ele existia. A estrada transformada numa via sem obstáculos, olhar fixo no caminho, porém ausente, conduzido pela sonoridade que lhe penetrava os ouvidos.



My life is brilliant.
My love is pure.
I saw an angel.
Of that I'm sure.

Recostou a cabeça no encosto do banco, atento ao tráfego, mas mergulhado nas memórias que afloravam. Uma eletricidade prazerosa inundava seu corpo e ele flutuava sem sair do lugar tomado por algo sublime que apenas sentimentos podem proporcionar.

Foi a primeira música que ouviu depois daquele encontro inicial com ela. A letra elogiava a beleza da mulher que havia contemplado pouco antes numa tarde de setembro. O videoclipe em cores clareas, quase branco e preto, quase em tonalidades de cinza, contrastava com as múltiplas cores com que sonhava no começo de noite. Descortinava-se, diante dele, uma realidade desconhecida, quase adolescente, com um ímpeto e um vigor renovados. Ao final, o cantor saltava de um penhasco no mar. Sentiu-se assim naquele dia, como se a falta de cor desaparecesse, como se saltasse para algo novo e inexplorado dentro dele. Estava tomado de uma vibração pulsante que lhe dava a impressão de que iria alçar voo.

I saw your face in a crowded place,
And I don't know what to do,
'Cause I'll never be with you.

O tempo passou, mas não os sentimentos. Prestou atenção na letra , que se encaixava de forma miraculosa em tudo que passara e que vivenciara. Ignorava por completo os carros ao seu redor, a paisagem que corria ao largo do veículo. Estava absorto nela. Ainda com o sorriso no rosto, o pensamento distante, uma lágrima percorreu-lhe o rosto.

A música acabou. Ele desligou o rádio sem deixar que os pensamentos abandonassem o lado daquela mulher. O presságio aparente ainda não se concretizara, pois ele, mesmo com a lágrima derramada, ainda seguiria pacientemente a esperá-la.


OBS: Esta é uma crônica multimídia, algo que a internet permite. Leia e escute a música de fundo que inspirou este texto.

3 comentários:

Edna Federico disse...

Renato,

Que linda crônica!
Sinto saudades de escrever tb...a vida anda tão corrida...
Beijo

Isa disse...

Um personagem masculino que chora, ainda que contido, mas que não desiste de correr atrás do amor.
Gostei do texto.

Anônimo disse...

Divulgar
Causa Humanitária.

Por favor,

há uma campanha na rede neste momento.

A falta de liberdade de expressão em Cuba levou a cadeia dezenas de pessoas por crime de opinião.

Aqui no Brasil, podemos nos expressar, dizer o que pensamos, se alguém é ou não isso ou aquilo, se fulano é ou não alinhado com o governo e etc.

Desde que não acusemos ninguém de um crime tipificado na lei (e ser alinhado ou não, ou ser “cabeça de planilha” ou não, não são crimes), podemos nos expressar com liberdade. Não tiramos pedaços de ninguém.
Temos esta liberdade, de criticar a política econômica quando não concordamos, ou de criticar este ou aquele programa de governo. Às vezes a vemos como exagerada, às vezes sentimos na pele seu limite estreito.
Mas o seu valor é inquestionável.

Disse William Blake nos Provérbios do Inferno:”Esteja sempre pronto a dar sua opinião e os vis te evitarão.”

Contudo, ainda hoje, em pleno século XXI, existem países aonde isto não é possível, como China, Coréia do Norte ou Cuba. A vileza humana já foi mais longe outrora quando milhões morreram. Não há necessidade de outros 100.

Há uma campanha mundial pela liberdade de expressão em Cuba. Neste momento, vários presos políticos estão em greve de fome. Desse modo, peço o obséquio de que divulgue em seu blog o link

http://firmasjamaylibertad.com/Firmas.php

Já se encontra assinado por pessoas do mundo inteiro que prezam pela liberdade de expressão. Entre elas, está Yoani que demonstra a força que um blog pode ter num país que pretende cercear a liberdade. Como blogueiro, deve ser motivo de orgulho observar até onde se pode ajudar a uma causa humanitária.