quinta-feira, 7 de maio de 2009

A função da universidade e as quotas

A maior injustiça está em tentar corrigir um erro do passado sendo injusto com aqueles que não têm culpa, ou que não tiveram qualquer participação nas atrocidades cometidas por seus antepassados. Refiro-me ao projeto de lei que visa instituir quotas nas universidades federais. Pelo projeto apresentado, 50% das vagas das universidades federais deverão ser destinadas a índios, negros e pardos. Acrescente-se uma outra proposta que reserva mais 10% das vagas para deficientes físicos. Sobram assim 40% das vagas nas universidades federais para pessoas supostamente não integrantes das minorias. Em outras palavras, um filho de agricultor no interior do Rio Grande do Sul, branco, de olhos azuis e aluno de escola pública não terá a mesma proteção estatal de um negro de classe média, filho de funcionário público e aluno de escola particular em Salvador na Bahia.

Na minha modesta opinião, o projeto de lei é discriminatório, absurdo, inconstitucional e uma aberração por não atingir os objetivos propostos, bem como considerar a universidade como mera formadora de mão de obra. A visão e a lógica deste projeto estão deturpadas.

Em primeiro lugar, por que o projeto considera que todos os negros, índios e pardos não têm condições de enfrentar um vestibular. Esta premissa é falsa. Pessoas - independentemente de raça - que frequentam escolas públicas tendem a ser menos preparadas para enfrentar o vestibular por que o ensino público fundamental é um lixo no Brasil. Formam-se analfabetos na língua pátria, em matemática, em ciências humanas e exatas. A falência do ensino fundamental é notória e o que faz o governo, ao invés de investir no ensino fundamental, resolve eliminar bons alunos da universidade e, de forma demagógica, dar acesso a alunos sem preparo, sob a falsa ideia de que o curso universitário gerará melhores condições de vida ao aluno que se formar.

Em parte o governo está correto, mas para que o aluno aumente sua renda e melhore seu nível social, ele precisa CONCLUIR o curso superior. Eis aí outro problema: a função da universidade. A função de uma universidade não é semelhante a de um curso técnico ou profissionalizante. A função da universidade é produzir conhecimento, é produzir excelência, é produzir ideias.

Em artigo publicado na Dicta & Contradicta, Júlio Lemos afirma: "Seja qual for o termo utilizado, porém, o fim da Universidade é aos estudantes exatamente esse tipo de cultura intelectual, analogamente ao que faz um hospital com seus pacientes quando lhes proporciona os meios para atingir a saúde." ("Newman e a educação liberal" in Dicta & Contradicta, número 1, junho 2008, São Paulo, p. 195). O autor comenta a obra de John Henry Newman denominada The idea of a University.

Acho triste que a maioria das universidades brasileiras, principalmente as privadas, tenham perdido seu senso de missão educacional. As particulares tornaram-se, salvo poucas exceções, em grandes máquinas de fazer dinheiro para seus donos. Donos no sentido pejorativo do capitalismo selvagem, já que não há preocupação com a formação do aluno e dos professores que ali lecionam. Acho triste que pouco se discuta sobre a função da universidade, vista por alguns como um foco de pensamento perigoso. Assim pensavam os militares na época da ditadura; assim pensa o atual governo com o intuito de legitimar a mediocridade e a imbecilidade do povo que é visto como mero instrumento de manobra.

Não sou preconceituoso e não sou racista, pois sei que muitos não compreenderão o que aqui escrevo. Sou contra as quotas por entendê-las discriminatórias e contrárias à função básica da universidade. Logo, logo neste país, ser branco, heterossexual e não receber Bolsa Família vai ser a composição de uma minoria despida de direitos.

Por fim, a foto do post anterior poderia ser uma boa metáfora do conteúdo do cérebro de muitos universitários deste país: o vazio. Este vazio vai ser cada vez mais frequente se as quotas forem implementadas.


2 comentários:

Edna Federico disse...

Também sou contra essas cotas...não pelo fato de serem para negros, índios, pardos ou sei lá mais quem.
Sou contra, porque se o país fizesse o papel que lhe é devido, dar educação decente para todas as pessoas, fornecer os meios para que cada um lute por um lugar, não precisaria sair distribuindo cotas!
Beijo

Fabiola disse...

ai ai não vou nem dizer nada!