Talvez eu goste de você mais do que deveria. Talvez nem
deveria ter deixado me interessar por você, deveria ter me apegado a defeitos,
a detalhes negativos, àqueles pontos que incomodam e desfazem qualquer encanto.
Acho que o cigarro era para ser um destes eventos para
torcer o nariz. Lembro que você me disse que fumava com certo temor da minha
reação, como se eu fosse torcer o nariz e fazer cara feia. Mas ouviu de mim que
eu também fumei e gostava de fumar. Contive-me, mas quase emendei um “acho sexy
fumar”. Engoli as palavras e calei-me. Naquele dia, após o almoço, enquanto
caminhávamos pela rua, você acendeu um cigarro e eu fiquei apenas a observar. Enquanto
te ouvia, minha imaginação viajava para um recanto distante, só nós dois a
fumar e a brincar com as piruetas da fumaça do cigarro. Entrei numa realidade
paralela somente perceptível a mim. Acho que fui discreto o suficiente para que
não percebesses o que se passava nos recantos da mente.
Tentei fazer uma lista mental de pontos negativos, mas todos
os quesitos eram positivos. Custei a achar algo que me incomodasse. Terminei com
um conjunto vazio. Acho que o sentimento
turva o raciocínio, desfoca, neblina que cai espessa e impede a visibilidade
clara. O coração parece saber navegar, mesmo com neblina intensa e sem qualquer
visibilidade. Segue seguro e firme, ainda que por vezes pareça hesitar, sempre
adiante, derrubando as barreiras e justificando cada atitude.
Havia leveza e alegria no ar e tudo causado pelo teu
sorriso. Em tempos que se fala tanto em energia e conexão, parece que tudo se
encaixou e a energia gerada era carbono free. Estávamos prontos para
encarar a era das novas fontes energéticas? Brincadeiras a parte, o caminho
ainda se revelaria longo e cheio de percalços, se é que existe caminho a
trilhar. Caminhar sozinho pode ser tortuoso e queria que a jornada não fosse
solitária.
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