terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Forasteiro


Vista pela manhã e a cidade acaba antes do horizonte.

Manhã de céu azul com poucas nuvens, sem sinal de poluição. O ruído dos carros é dado  pelas ruas de paralelepípedos, intervalados e em velocidade menor. Não há buzinas; não há pressa. Carros estacionados na diante de lojas têm seus vidros deixados abertos; não há o medo da cidade grande. As pessoas se cumprimentam na rua, um grupo de senhores conversa tranquilamente num banco da praça da matriz, ao lado da igreja. Não vejo muros pichados na praça e a igreja está bem pintada e revela-se imponente, sem excessos.

Estou em São José do Rio Pardo, cidade no interior de São Paulo, com pouco mais de 55 mil habitantes e quase na divisa com Minas Gerais. Dista 264km da capital e foi residência de Euclides da Cunha no final do século XIX. Meu destino final é Guaxupé, Minas Gerais, onde irei a trabalho, mas resolvi pernoitar por aqui.

Alguém poderia se perguntar o que há de glamuroso nisto tudo? A resposta precipitada seria nada. Mas é aí que reside o engano da resposta apressada.


A caminho de Guaxupé, MG

Quando se visita uma cidade pequena do interior, o visitante é um forasteiro. Todos reparam, olham de soslaio, alguns encaram como se admirassem um animal exótico. Exageros à parte, sinto-me fora do ninho, deslocado. No restaurante em que fui jantar, perto do hotel, havia umas 4 ou 5 mesas cheias. Todos se conheciam e se cumprimentaram, puxaram um fio de prosa, para usar uma expressão bem interiorana. 

Caminhei uns 100 metros até o restaurante cruzando a praça da matriz. Crianças corriam pela praça; um casal namorava num banco; um grupo de jovens conversava tranquilamente; um senhor retirava dinheiro de um caixa eletrônico e contava as notas na calçada. A praça iluminada na noite quente era um ponto de encontro de vidas que têm um ritmo tão diferente do meu. Quantas pessoas, em pequenas cidades no interior deste Brasil, conduzem suas vidas neste ritmo?, me perguntei. Sem medo, sem pressa, sem estresse.

Tenho certeza que me entediaria neste ritmo, mas que há beleza neste ritmo pacato, isto com certeza há.

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