Terça-feira, meio da manhã, semáforo da Alameda Lorena com Av. 9 de Julho, bairro dos Jardins em São Paulo. Parado no trânsito um homem aguarda dentro de um carro. Despertado da distração por uma pancada forte e certeira no vidro do motorista. Repara num homem de terno, que abre o paletó e lhe mostra um revólver. Faz um gesto para que abra o vidro e entregue o que tem: carteira, relógio, celular, pasta. Poucas palavras são trocadas. As ordens são seguidas. O homem sai andando calmamente no sentido contrário ao fluxo de veículos. O motorista, atônito e nervoso, estava a uma distância inferior a meio quarteirão do escritório.
Os fatos acima são reais e aconteceram com meu sócio. Não havia policiamento no local, nem nas redondezas. Ele foi à Delegacia e gastou quase a tarde inteira para fazer um BO. A delegacia fica no bairro dos Jardins, um dos mais nobres e caros de São Paulo.
A narrativa se repete em qualquer mesa de bar, em qualquer conversa de colegas de trabalho, em qualquer ambiente. A cena lastimável de violência e de insegurança espalha-se por todo o país, em menor ou maior grau. Viramos reféns da bandidagem. Ainda que o Capitão Nascimento insista em afirmar que agora o inimigo é outro, o medo é real e presente. O maior medo do cidadão é o bandido.
Assisti cenas de bandidos armados na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro vive momentos de terror, de afronta à ordem posta, de intimidação do Estado que tenta aos poucos reconquistar seu poder sobre os cidadãos - todos os cidadãos, inclusive aqueles que ignoram a existência das leis e aqueles que parecem viver à margem da sociedade.
Não vou politizar a questão, nem tampouco defender esta ou aquela linha de pensamento. Porém, é preciso lembrar que o tema segurança pública foi debatido na campanha eleitoral. Tentaram rotular a política de segurança pública do Estado de São Paulo de frágil e ineficiente. Um candidato ao governo do Estado - e que foi derrotado no primeiro turno - insistia em relembrar a tentativa do PCC de parar São Paulo. O PCC conseguiu parar São Paulo por um dia. E agora, Senador, algo a dizer sobre como acabar com o terror no Rio?
O que os bandidos fazem no Rio é mais grave do que o PCC fez em São Paulo. Vivenciei aqueles dias de pânico coletivo, propagado pela imprensa que se amedrontou diante de informações desencontradas. Naquele dia, em que todos foram embora do escritório com medo - e ficaram parados por horas no trânsito -, eu fiquei até mais de 20 horas trabalhando. Fui para casa sem trânsito; as ruas desertas e nem sinal de bandido ou membro do PCC. Antes de ser um ato de loucura ou coragem, foi um ato racional de preservação da vida. O raciocínio foi simples: se ficasse parado no trânsito, seria um alvo fácil para um arrastão de bandidos. No terceiro andar de um prédio comercial da Av. Paulista, estaria mais seguro.
No dia seguinte, a Rota foi para as ruas e a cidade voltou ao normal. Bandidos morreram. Alguns talvez inocentes, mas outros não. A dúvida não favoreceu o réu. E acredito que a atitude foi justificada.
Solidarizo-me com a aflição e o medo dos cariocas. Preocupo-me com as pessoas queridas que moram no Rio e vejo cidadãos amedrontados, reféns em suas próprias casas. O direito de ir e vir é tolhido pela omissão do Estado (em todos os níveis) e ficamos enjaulados em casas, apartamentos, condomínios. É hora de agir com firmeza e tomar as medidas necessárias.
O medo não é privilégio dos cariocas; o medo habita no seio dos paulistanos e paulistas; o medo instalou-se em todas as cidades brasileiras de porte médio e grande. Iniciei este post com um exemplo recente da cidade de São Paulo para não parecer que apontava o dedo, ou que comparava as políticas públicas de segurança. O problema é amplo e geral; o problema é uma preocupação de todos os brasileiros. O Estado precisa agir!
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