quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um país dividido

A eleição passou. Este post ia ser escrito antes da eleição, mas não perdeu sua atualidade e tem um olhar retrospectivo. As urnas só confirmaram o que já imaginava e pode ser visualizado no post anterior, com o mapa eleitoral que correlaciona o voto com os indices de analfabetismo. Eis aí a representação visual do que aconteceu: o país votou dividido.

Na eleição de 2006, o ponto que mais me marcou foi a forma como Lula tentou dividir o país. Lula tentou rotular Alckmin como um representante dos ricos, do sul, da elite, dos inimigos dos pobres e oprimidos. O país votou dividido.

O mesmo script foi seguido nesta eleição, porém os ânimos se acirraram com a margem menos folgada de vitória e com uma candidata fabricada em laboratório, uma espécie de versão feminine de Celso Pitta.

Acho lemantável a divisão perpetrada por Lula e pelo PT. O responsável por este discurso separatista e de confronto maniqueísta foi Lula. FHC lembrou bem, em entrevista à Folha de São Paulo, que Lula “dinamitou pontes” em seu governo. Ao invés de unir o país em torno de um proposta, optou-se por dividir o país e instigar uma rivalidade desnecessária e nada positiva. Lula, do alto de sua popularidade, mandou ver e decretou guerra aos inimigos, sugeriu que era necessário "extirpar a oposição" e metralhou uma sucessão de destemperos agressivos e autoritários. 

A divisão do país ficou mais evidente quando o tema ganhou a internet com ofensas aos nordestinos e equivalente revide. Acho que as atitudes estão equivocadas e não se justificam, afinal somos todos brasileiros, somos todos filhos da mesma pátria. Chegou-se ao absurdo de se falar em “raça” nordestina, o que não existe.

Voltemos ao ponto objetivo: a divisão do país. Este mapa traz a votação dos candidatos por município, além de algumas outras análises visuais bem interessantes. 

Nota-se claramente que Dilma venceu de forma esmagadora no Nordeste e no Norte e nas faixas populacionais com menor índice de escolaridade. Serra foi vitorioso no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste, com exceção de Minas Gerais que votou em Dilma. No geral, a vitória foi de Dilma.

Outro aspecto que os números revelam é que Serra venceu na maioria dos municípios vencidos por Marina no 1o. turno, revelando uma nítida transferência de votos.

Há várias extrapolações possíveis e os números contribuem para várias análises. Uma delas demonstra que no Maranhão, Dilma venceu em todos os municípios. No Maranhão, 55% da população é beneficiária do Bolsa Família. O Estado é governado por uma mesma família há muitos anos, família esta que se aliou a Dilma. Um jornal maranhense trazia um artigo assinado pelo Senador José Sarney em que dizia que votar em Dilma era votar em Roseana.

O Bolsa Família é um programa assistencial positivo, porém é preciso questioná-lo. É benéfico dar o benefício por prazo indeterminado? Como auxiliar um beneficiário a sair do programa? Como educar as pessoas para que se capacitem para a vida profissional e saiam do programa? Estas perguntas não foram abordadas na campanha presidencial.

Aliás, poucos temas relevantes foram abordados por ambos os candidatos na reta final da campanha. Culpa de quem? Culpa de nós cidadãos e eleitores que não exigimos posturas mais claras.  Por exemplo: sabemos o que pensa Lula, mas o que pensa Dilma? Ela não falou o suficiente. Foi treinada para repetir um “programa” de governo vazio e generalista, mas que não explica como as questões serão enfrentadas.

Os candidatos prometeram realizar a reforma política, a reforma tributária, melhorar a infraestrutura, melhorar a segurança, melhorar a saúde, melhorar a educação.

As duas primeiras reformas são eternas promessas e se a reforma política tivesse sido levada a cabo, talvez Tiririca não tivesse sido eleito. Duvido que Dilma consiga realizar uma delas. E ainda tem a reforma previdenciária e o ajuste fiscal para diminuir o tamanho da máquina pública. Os desafios que Dilma vai enfrentar são grandes e, como cidadão, não sei o que ela pensa sobre estes temas.

Dilma assumirá com um país dividido. Terá uma maioria na Câmara e no Senado, porém, se o PMDB se revoltar, esta maioria se evapora. Esta divisão criará problemas para Dilma pois vislumbro que o cidadão saberá utilizar melhor os instrumentos de comunicação disponíveis e que foram palco de grandes embates nos meses que antecederam o pleito. Refiro-me à internet, especificamente ao Twitter, ao Facebook e ao Orkut. Ousaria dizer que o Twitter foi o grande vencedor desta eleição.

Política não deve ser assunto para cada dois anos; política deve ser acompanhada sempre. Utilize os canais disponíveis e cobre, fiscalize, escreva para seu deputado e senador, manifeste sua indignação e elogie os bons projetos. O email pode ser uma ótima forma de botar a boca no trombone.

Este blog continuará a importunar nossos dirigentes e a reclamar, quando for o caso. Se couberem elogios, estes também serão feitos. 

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