terça-feira, 8 de setembro de 2009

Memórias da Infância

Foto tirada de O Blogue da Margarida

"- Horward McGhee no tromopete; Lester Young no sax tenor - Satsuki balbuciou em tom de monólogo. - Performance do movimento JATP.
Nimitre olhou o rosto de Satsuki, emoldurado pelo retrovisor:
- Nossa, a doutora é uma grande conhecedora de jazz! A senhora gosta?
- Meu pai era apaixonado por jazz. Quando eu era criança, ele me fazia ouvir várias e várias vezes a mesma música até eu aprender os nomes dos intérpretes. Se eu acertava, ganhava um doce. É por isso que ainda hoje me lembro deles. Se bem que só conheço os mais antigos, dos novos não sei nada. Lionel Hampton, Bud Powell, Earl Himes, Harry Edison, Buck Clayton..."
(Haruki Murakami. TAILÂNDIA. Trad. de Lica Hashimooto. Granta, 4 : ambição. Rio de Janeiro : Objetiva, 2009, p. 31)

Este trecho de um texto de Haruki Murakami está na Revista Granta em Português, número 4. Ao ler o trecho, minha mente viajou. Interessante como esta passagem inserta dentro de todo um contexto da estória, levou-me de volta aos almoços de sábado, no apartamento da Vila Mariana, com a família ao redor da mesa e meu escolhendo um disco para embalar o almoço.

As músicas eram sempre variadas. Mas algumas traziam consigo um pouco da lembrança do meu avô e dos tempos de vida no interiror. Música caipira, com a viola característica contando alguma estória triste. Menino da Porteira, na voz de Tonico e Tinoco. Alguma canção de Milionário e José Rico. Outras de Renato Teixeira e sua Romaria. Chico Mineiro e tantos outros personagens.

Recentemente, encontrei aquele disco de vinil guardado num armário no sítio. Era o mesmo disco, as mesmas músicas. Com minha filha no colo, tentei explicar o que aquilo significava, começando pelo que era "aquele" enorme disco preto, de como o bisavô dela nascera no interior, de como gostava destas músicas, do que elas diziam.

Impossível não observar aqueles olhinhos curiosos e imaginar se um dia ela fará o mesmo com a filha dela, com outras músicas, com outros ritmos, mas com a tradição de passagem da memória emocional e musical de uma geração à outra.

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