"Não tenha receio de falar sozinho, para aliviar-se, caso lhe falte, no momento, o interlocutor adequado. Antes endoidecermos para os outros, que de longe nos observam, do que endoidecermos para nós mesmos, calando o desabafo. Quem manda alguém à merda, em ocasiões assim, tem a imensa vantagem de não receber o troco, sujando-se também."
(Josué Montello. Diário do Entardecer, 1967-1977. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1991, p. 161)
Tenho hábito de falar sozinho e encontrar este trecho numa obra de reflexão sobre a vida, de alguém mais experiente e mais culto, tem o condão de confortar um certo sentimento de estranheza. Por vezes, "falo" sem deixar que as palavras saltem para fora, mas remanesçam no silêncio, guardadas em segredo. Outras vezes, mantenho um interlocutor imaginário que me acompanha em finais de dia, companhia que me distrai do trânsito, do cansaço rotineiro, da mesmice de um caminho. Com certa frequência, o meu interlocutor parece responder à minha fala, de tão bem que me conhece, vive me apontando as respostas às dúvidas que lhe coloco.
Um comentário:
O mais divertido sou eu falando sozinha no trânsito. E olha que eu ainda tenho papéis diversos, hein? Sou eu, sou outros, se bobear imito até a reação possível do cachorro.
Mas o que seria da vida sem os devaneios das histórias possíveis, hum?
Beijoca, querido! Você anda com uma inspiração de dar inveja.
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