A anedota merece ser reproduzida e para evitar que o post anterior ficasse muito longo, retomo o tema e a narrativa de Josué Montello:
"Certa vez, na Igreja de Santo Antônio, foi achada uma carteira com dinheiro. Imediatamente, os bons frades afixaram um aviso na sacristia, pondo a carteira à disposição do dono, desde que este provasse, pela explanação do que ela continha, ser realmente o proprietário.
A leitura do aviso dos frades atuou no espírito de Inácio José Ferreira (ou melhor: o Poeta Bacanga) como um raio de inspiração. Imediatamente atirou-se o bardo para o Jornal do Comércio. E ali pôs um anúncio, dizendo ter encontrado uma carteira. Pedia ao dono que passasse por sua casa, na rua tal, númerto tanto, no Castelo.
Assim que o jornal circulou, apareceu na casa do Poeta Bacanga o dono da carteira. Inácio não demorou a recebê-lo.
- Como é ela? – indagou.
Ponto por ponto, o outro deu explicações: a cor, o tamanho, os papéis e cédulas que continha.
- Então não é sua a carteira que eu encontrei – replicou o poeta, mostrando ao homem uma carteira velha que tirou do bolso.
Assim que o senhor, desapontado, saiu fora de portas, o vigarista subiu as escadas da igreja de Santo Antônio. De posse das informações necessárias, descreveu aos frades a carteira e seu conteúdo e entrou logo na posse do dinheiro.
O gênio do vigarista merecia o prêmio. Merecia. E não se pense que, por ser ladrão, não tinha melindres. Tinha-os, e à flor da pele. Tanto assim que, ao se ver retratado, com o nome de Pereira, na comédia Verso e Reverso, de José de Alencar, quis castigar a bengaladas, no próprio teatro, o famoso teatrólogo. Este, para não apanhar, correu. E como era pequenino, e ágil, conseguiu escapar à fúria do Poeta Bacanga." (Diário do Entardecer. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1991 p. 49)
E por falar em cara-de-pau e malandragem, o discurso que ecoou ontem nos jornais televisivos e está reproduzido nos jornais de hoje, revela que o Brasil de ontem e de hoje é o mesmo. Triste, mas verdadeiro.
2 comentários:
Sem comentários sobre o "tal discurso", foi de amargar!
Não sabia se chorava ou ria...
Minha vô dizia que esse mundo é dos espertos... mas eu mudaria... o mundo é na verdade dos espertalhões...
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