terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Beleza Gratuita

Sol Poente, de Tarsila do Amaral



Quase onze e meia da noite quando entrei no quarto e uma lua cheia despontava pela janela na altura dos olhos. Clara, brilhante, faltando apenas uma pequena parte para formar uma perfeita circunferência. Noite quente, abafada e sem vento em São Paulo. Fui até a janela apreciar o céu e a noite. Minha rua estava com as luzes dos postes apagadas. Parecia convidar a lua a iluminar o pequeno trecho, suprir a falta da luz elétricas dos cinco postes com um luar, como uma noite no interior, onde é possível ver a própria sombra em plena noite.




Fiquei alguns segundos a imaginar estórias para aquele cenário. Um carro parado na rua poderia ter um casal de namorados refugiando-se no escurinho; uma pessoa sozinha poderia temer caminhar por aquele trecho em que não conseguia avistar e evitar surpresas da cidade violenta; alguém na janela poderia simplesmente observar a lua se erguer e desenhar as sombras no asfalto. Tive vontade de sentar no computador e escrever, mas não consigo escrever com gente bisbilhotando, perguntado, vigiando. Escrever precisa ser solitário. Parece que a inspiração dissipa-se como um fantasma que foge assustado ao notar a presença de um observador. Rabisquei algumas idéias no papel, mas fiquei com aquela imagem urbana na cabeça antes de dormir.




O ciclo do dia oferece-nos momentos de beleza gratuita, de beleza natural. Basta parar e observar. O dia de ontem em São Paulo foi quente, mas o final de tarde foi esplendoroso, lindo. Estes momentos se tornam ainda melhores em boa companhia, com um bom papo. Assim é o nascer do sol, no verão ou no inverno, com variações de matizes; assim é o poente, com o rubro vivo do verão quente, ou um vermelho róseo no inverno; assim são as noites de lua cheia com seu brilho prateado. Assim a natureza nos brinda com sua beleza gratuita.

Um comentário:

Anônimo disse...

É verdade, o luar de ontem foi inspirador. Mas no fim da tarde lá pelas bandas da Marginal o céu tava carregado, quase negro, num tava? será que choveu em sampa antes de aparecer aquela Lua maravilhosa?

Beijos