terça-feira, 4 de novembro de 2008

Gastrossexuais

Parece que o mundo moderno adora rotular as pessoas. Quer sejam categorias criadas por publicitários para vender e divulgar seus produtos a um determinado segmento, ou criativos pesquisadores que adoram inventar moda, sempre aparece uma notícia explicando o surgimento de um novo grupo de pessoas.

"A pesquisa do instituto britânico Future Foundation, feita com mil homens no Reino Unido, mostra que 48% dos entrevistados dizem que ser capaz de cozinhar os torna mais atraentes para as mulheres", publicou a Folha de São Paulo em reportagem de 12 de outubro de 2008. Segundo explica a reportagem, o homem que cozinha passa uma imagem menos machista, menos preconceituosa e mais carinhosa. A explicação psicológica tem lá seu fundamento, mas vejo isto de um ponto de vista diferente.

Hoje em dia, as pessoas estão mais independentes. O homem moderno tende a assumir um papel mais participativo, mais colaborativo nas tarefas domésticas, tanto no aspecto da paternidade, como no aspecto da vida individual. Independência significa saber escolher suas roupas, a cuidar dos filhos, a cuidar de algumas tarefas domésticas. O novo homem age de forma diferente da geração dos seus pais.

Homens que moram sozinhos, por exemplo, tem que lavar e muitas vezes passar suas próprias roupas; vão ao supermercado e preparam suas refeições; cuidam da aparência, sem descambar ou ficar horas na frente de um espelho com cremes. A febre dos metrossexuais parece ter ficado para traz, então agora surgem os gastrossexuais.

Porém, há uma outra característica de gostar de cozinhar. Não se trata de usar a culinária para "fisgar" as mulheres, mas sim de uma atividade manual e sensorial que apetece aos sentidos e relaxa a mente.

Pessoalmente gosto muito de cozinhar. Não só de ir para a cozinha, mas de toda a preparação, da escolha dos alimentos, de planejar um cardápio, de ser criativo, de cortar e lavar os alimentos. Cozinhar é um hobby, um contraponto à atividade intelectual do meu trabalho diário. Cozinhar é um exercício que explora os sentidos e a criatividade de criar de algo inesperado, de surpreender-se com a mistura dos temperos e ingredientes.

Meu avô, sujeito nascido no interior de São Paulo, era um cozinheiro de mão cheia. Quando criança, ele costumava me levar ao supermercado com ele para escolher os ingredientes e depois preparar o almoço. Era um divertimento familiar, um elo de ligação entre gerações. A afinidade, a cumplicidade daqueles momentos ficaram guardadas com carinho. Convivi pouco com meu avô, pois ele morreu quando eu tinha 6 anos, mas aqueles instantes de convívio permanecem vivos na memória.

Rótulos são desnecessários e incabíveis para estas situações. Talvez funcione para os ingleses, mas acho muita invencionice. O homem muita vezes aprende a cozinhar por necessidade e por exigência das condições de vida, onde a mulher trabalha fora, ou então, para aqueles que moram sozinho. Com rótulo ou sem rótulo, a experiência de cozinhar é enormemente prazerosa. E deve ser prazerosa também - principalmente - para quem saboreia os pratos.

2 comentários:

Edna Federico disse...

Bem, não sei se é invencionice ou não, mas que realmente um homem que sabe cozinhar atrai mais as mulheres, isso atrai mesmo.
Claro que não é regra, tem mulheres que simplesmente não ligam para isso.
Eu já acho maravilhoso um homem que hoje em dia ainda sabe ser cavalheiro...abrir portas, mandar flores, fazer um carinho após o momento de luxúria, tudo isso é fundamental!
Beijo

Anônimo disse...

Ah, mas é verdade! Um amigo meu jura de pé junto (ele trabalha no Zazá Bistrô, em Ipanema) que quando ele sai pra fumar um cigarro com a roupa da cozinha, a mulherada torce o pescoço! Rsrsrs... Foi-se o tempo em que mulher queria cozinhar pra homem, ôxe.

Eu estou reavaliando o que é importante pra mim num homem. Cozinhar pode dar uma bossa e tals, mas não tenho nada contra uma boa cozinheira! (rs)

Bezzos,