sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Time out!

(cena do filme My Best Friend´s Girl)



Em plena manhã de terça-feira, pouco depois das dez horas, parti rumo ao aeroporto. Uma viagem a trabalho, bastante simples, para protocolar uma contestação em Joinville, Santa Catarina. Simples, pois se tudo corresse como programado, terminaria minhas obrigações profissionais por volta das 14 horas e teria o resto do dia livre. Carregando um livro de crônicas de Jorge Luis Borges (O Fazedor), meu iPod e várias folhas em branco para escrever, estava ciente de que era um dia para arejar a cabeça. O vôo de volta seria apenas às 20:30. Uma pausa no meio da correria, ou para ser fresco, "time out".



Tudo correu como planejado. Missão cumprida, saí caminhando do fórum de Joinville rumo ao centro da cidade. Segui minha intuição e meu "GPS" interno, observando o fluxo de pessoas que me indicavam a direção. Poderia ter mandado outra pessoa no meu lugar, mas fiz questão de ir pessoalmente. Primeiro, porque adoro viajar. Segundo, porque precisava de uma pausa destas. Locais novos e ambientes novos são um ótimo incentivo para a criatividade e para novas situações que volta e meia repousam em personagens das crônicas.



Tinha lido metade do livro. Já tinha escrito algumas coisas sentado numa praça de alimentação deserta de um shopping no meio da tarde. Então, resolvi ir ao cinema. Pegar uma sessão no meio de uma tarde de trabalho tem um gosto de transgressão, algo completamente diferente da rotina. A escolha recaiu sobre uma comedia romântica, cujo título em português é sofrível: Amigos, amigos, mulheres à parte (My Best friend´s girl, no original). Na platéia, algumas senhoras da melhor idade, um ou outro casal de adolescentes e eu de terno, o que fez com que algumas pessoas me olhassem de forma estranha. Pouco me importa o que pensaram e em nada me incomodou.



Diversão leve e agradável. Porém, há uma cena no filme que me fez pensar. Não sei passei a ser mais observador depois que comecei a escrever algumas crônicas; não sei se percebo estas coisas agora depois de ficar mais maduro; não sei se houve alguma identificação com aquela cena. O fato é que estas comédias românticas sempre trazem de forma discreta uma revelação sobre relacionamentos. São pequenas situações, algumas sutis, outras mais escancaradas, mas todas passam ao público algo de verdadeiro e algo a refletir. Escrevi um pouco sobre isto no post Garota da Vitrine.



Na cena, a que me refiro, o mocinho leva a mocinha para um passeio surpresa. Faço um pequeno parênteses: trata-se de um baile de formatura. O baile de formatura nos EUA é o auge da vida social de qualquer aluno do ensino médio. É algo marcante e inesquecível. Ao chegar ao baile de formatura, ela fica boquiaberta, seu rosto brilha. Ela diz que não tinha ido ao baile de formatura dela. Ele responde: eu lembro quando me contou! Ela sorri.



A cena pode ser boba, banal, mas há algo neste pequeno diálogo. Ele prestou atenção nela! Ele ouviu o que ela disse! Ele agiu pensando nela! Detalhes. Pequenos detalhes podem fazer a diferença em qualquer relacionamento, seja ele de amizade, seja ele de caráter mais íntimo. Tenho cá com meus botões, que todos estes tipos de relacionamentos são modos diferentes do amor, matizes de um sentimento que podem variar dependendo das situações concretas. Por vezes mais contido, por vezes mais direto e intenso, mas sempre amor. Em todos os casos, porém, os detalhes revelam uma preocupação gratuita e desinteressada que valoriza a pessoa que está ao nosso lado. Detalhes que podem aparentemente passar despercebidos, ditos no meio de uma conversa, pequenos gestos inadvertidos, mas que são notados e guardados, até que num momento, como num passe de mágica, eles reaparecem e lançam luz nova naquele momento sombrio.



Reparar e prestar atenção é valorizar, é demonstrar com gestos o quanto uma pessoa é especial e querida. Afinal, gestos nascem de dentro do coração.

3 comentários:

Edna Federico disse...

É bom dar uma parada assim no meio do dia.
Ah, sim, os detalhes fazem toda a diferença.
Muitas vezes a falta de interesse, de retribuição, de gentilezas é que acaba com um relacionamento.
Acho muito mais triste o fim de uma amizade do que o fim de um relacionamento amoroso. Infelizmente algumas pessoas não sabem valorizar uma amizade, preservar, cuidar, retribuir...
Beijo

Fabiola disse...

hum... acho que as pessoas esquecem que sentir nao é falar
Bjocas

Gi Olmedo disse...

Parar pra olhar o mundo ao redor... faz bem!

Cheguei aqui pelo Rod. E ficarei...

Parabéns!

Beijos!