"Às vezes temos percepções espantosas de que a realidade é dom de Deus. São momentos que chamo de epifanias – na verdade, simplesmente uso o termo para essa súbita aparição do ser em sua plenitude. É algo muito difícil de explicar, mas recentemente, por exemplo, eu estava andando numa das ruas mais prosaicas de São Paulo, a tal Cardoso de Almeida. Não sou paulista, fui conhecer a Cardoso de Almeida recentemente e quase a contragosto. Até que um dia estava andando nessa rua, entre um ônibus e duas árvores completamente empoeiradas, e subitamente aquilo tudo me causou um grande espanto. Foi um maravilhamento que não se explicava nem se justificava de maneira alguma, mas é como se aquele enigma que você é o obrigasse a espantar-se e ficar profundamente emocionado."
(TOLENTINO, Bruno. "Do Enigma ao Mistério". Revista Dicta & Contradicta, Junho 2008, número 01, p. 19)
Bruno Tolentino descreve a epifania do poeta. Aquele momento de transe, em que o poeta é arrebatado pelo banal e pelo simples, e com um olhar diferente, com óculos da emoção, vislumbra uma realidade diferente e profunda, aparentemente incompreensível ou imperceptível.
A poesia tem esta capacidade: arrebatar. Fazer-nos viajar sem sair do lugar. Fazer-nos sonhar acordados. Fazer-nos mergulhar no nosso interior e descobrir aqueles recantos escondidos de sentimentos e memórias.
A poesia é um arrebatamento do cotidiano. É olhar pela janela, como fazemos diariamente, mas notar algo de diferente. O canto de um pássaro, os brotos na árvore no início da primavera, uma criança a brincar, um idoso a caminhar seus passos lentos.
A poesia inebria, enleva, desperta-nos para algo de novo. A poesia descortina uma vida nova, um momento único que deve ser saboreado e desfrutado. Um dom de Deus, que compartilha a seiva divina com pobres e limitados mortais.
Encontrar o poema certo é muito relativo. A poesia depende do estado de espírito – assim como a música – para tocar a alma de forma gratuita e inesperada. A poesia pode ser singela. A poesia é sempre surpreendente. Como a vida. Como os sentimentos. Como um sorriso da pessoa amada. Podemos denominar estes momentos de maravilhamento por outros nomes, mas simpatizei com epifania. Todos temos momentos de epifania, basta observar!
Arrisque. Abra um livro de poesia a esmo e leia. Deixe a poesia inundar a vida.
2 comentários:
Sim, a poesia é inebriante e ela pode nos dizer uma coisa diferente a cada vez que lemos.
Beijo
Sabe o que mais me atrai na poesia? O poder que ela tem de se adaptar àquele momento de nossas vidas.
Bisous e uma ótima semana.
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