Um verbo com duplo significado. No sentido literal, viajar é o deslocamento físico de um lugar a outro. No sentido coloquial, sinônimo de devaneio e delírio, um transe que nos transporta para lugares distantes sem qualquer deslocamento físico. Dois significados quase opostos. O primeiro é material; o segundo espiritual ou talvez seja melhor usar mental ou metafísico.
Escrever é uma viagem neste segundo sentido. Eu viajo quando escrevo. Talvez seja este o maior prazer: viajar sem sair do lugar. Escrever é criar. Escrever permite fantasiar-se do personagem e viver vidas possíveis, mas que não sejam nossas. É um mergulho no universo de outrem, que deve ser realista, caso contrário, as pessoas não se identificarão com o drama e a situação da personagem.
Estou lendo A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, e num determinado momento, um dos personagens solta a seguinte frase: "os livros são um reflexo de nós mesmos." Um mesmo texto literário pode ter significados totalmente diferentes para os leitores, pois estes se identificarão com o que lhes é familiar. A leitura permite esta viagem, este mergulho no universo criado pelo autor, em um mundo aparentemente irreal, mas que nos conduz e nos auxilia a viver individualmente o momento real.
Quando escrevo, busco reproduzir a realidade, mas de forma ficcional. Nos comentários à última crônica que publiquei, alguns leitores sugeriram ser ela real. Recebi os comentários como elogio. Os textos devem parecer reais, críveis, convincentes, humanos, ou quem sabe até universais. Ao menos, é isto que almejo como humilde aprendiz do ofício de escrever.
A vida imita a arte. Ou seria a arte imitando a vida?
Um comentário:
Nossa, essa foto me lembrou Fernão Capelo Gaivota!
Verdade, é possível viajar de diversas maneiras.
Eu também faço uma verdadeira viagem lendo livros, incorporo os personagens, é uma loucura, riso.
Bom, se é uma crônica ou história real, não sei (falando sinceramente, eu apostaria em real), o que importa é que foi muito bem escrita.
Beijo
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