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“Se
queres bom conselho, pede-o ao homem velho.”
O
ditado popular associa a velhice à sabedoria dos anos vividos, dos fatos
presenciados, das músicas ouvidas, das transformações sentidas. O bom e lúcido
idoso é um poço de bons conselhos, simples considerações sobre a longa estrada
da vida percorrida.
Quando
criança, passava horas ouvindo minha tia avó contar sobre a infância, sobre uma
São Paulo querida e romântica, imaginada em branco e preto, em tempos de bondes
puxados por mulas, por ruas de terra e depois de paralelepípedos, com meninas
com fitas no cabelo, vestidos rodados, sapatinhos de verniz. Uma cidade
provinciana, quase bucólica em alguns bairros, onde não existia telefone,
televisão, congestionamento, poluição, ruído em excesso, mas que teimava em se
movimentar, em crescer, em autoproclamar-se a locomotiva do Brasil. Non ducor,
duco, reza o lema no brasão da velha freguesia erguida nos campos de
Piratininga.
Ela
não tinha medo da morte. Dizia, com serenidade, que esperava apenas a hora que
fosse chamada para descansar. A vida tinha outra ritmo e não me lembro com que
idade ela faleceu, apenas me lembro que chorei ao receber a notícia.
A
sabedoria, por vezes, é afogada pela teimosia, por hábitos arraigados e que são
difíceis de quebrar e de mudar. Reparei nestes dias que idosos insistem em
atravessar a rua fora da faixa de pedestres. Uma senhora quase foi atropelada
ao cruzar no meio dos carros na Brigadeiro Luis Antônio e ainda se arriscar
quando o semáforo abriu no contra fluxo. Outro, ao invés de caminhar alguns
passos, corta a rua em diagonal, sem olhar e força uma freada brusca.
Estariam
estes idosos tomados de um empoderamento tão forte que os faz se sentir imbatíveis,
inquebráveis, indestrutíveis? Será que acham que a legislação que os protege
também obriga motoristas de veículos a dar preferência a todos os idosos em
qualquer lugar da via pública? Ou será que estão cansados e querem apenas pegar
um atalho?
Preste
atenção quando trafegar pelas ruas de São Paulo e veja se estou exagerando. Com
a velocidade máxima reduzida, fica mais fácil notar estas atitudes que
geralmente passam despercebidas.
Tomar
atalhos novos e deixar caminhos velhos, diz um outro ditado popular. Talvez
seja um bom momento para os idosos abandonarem os atalhos velhos no meio das
ruas e adotarem um caminho novo pela faixa de pedestre.
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