quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Conto: Noite Insone


A luz azulada no único apartamento com sinal de vida oscila e desenha a silhueta de um anônimo a compartilhar comigo a solitária insônia. Passa das duas da manhã e o silêncio me faz companhia, inundando a madrugada e permeando meus pensamentos. Penso em silêncio. Sobre o silêncio apoio-me, como se fosse um barco a conduzir-me pelas águas calmas de um lago.

Aperto os olhos tentando decifrar a silhueta no apartamento ao longe. Seria um homem ou uma mulher? Jovem ou idoso? Não tenho êxito na missão e os pensamentos começam a se enevoar com a avalanche do cansaço que me convida ao leito.

Um carro interrompe a quietude com o ronco do motor. E tudo volta a ficar calmo. E quieto. A madrugada está fria. Os pés descalços incomodam-me ao sentir o chão gelado da sacada. As pálpebras fraquejam e iniciam o movimento descedente. Forço-as para cima, ainda entretido com a luz azulada que exerce uma força hipnotizante sobre mim. Teria o espectador morrido na cadeira? Ou adormecera com a televisão ligada?

Minhas perguntas são vãs. Que diferença faz? Para que servem estas conjecturas? A resposta é muito clara: para nada, além de puro entretenimento enquanto o sono não me dá o ar da graça. Chega de perder tempo com ilusões e curiosidades vãs. Vou dormir. Boa noite!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cena curiosa



O que faz um sujeito colar um adesivo da campanha de Barack Obama para a presidência dos EUA em 2008 no carro emplacado no Paraguai? Coincidência a placa do veículo trazer as letras CAN? Yes, we can!

A foto não foi tirada em Assunção, mas em São Paulo. Cenas curiosas da metrópole paulistana.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ainda o pedestre

Complementando o post abaixo, duas situações presenciadas por mim nesta semana.

Segunda-feira, pouco depois das 6 e meia da manhã, Av. Eng. Oscar Americano. Trecho em declive, perigoso e sinuoso, sem faixa de pedestre e sem semáforo. Uma mulher tenta atravessar a via e é atropelada por um carro que conseguiu evitar um acidente fatal.

Terça-feira, 20:30 horas, Rua Pamplona. Trecho com faixa de pedestre, porém sem semáforo. Um homem falando ao celular atravessa a via sobre a faixa sem olhar para os lados, sem dar a mínima atenção ao fluxo de veículos. Os carros param e o pedestre cruza a via.

Dois casos típicos de negligência do pedestre. No caso do atropelamento, provavelmente a culpa foi da vítima. No segundo caso, a culpa também seria da vítima, mas os motoristas estvam mais atentos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A ditadura do pedestre



A Prefeitura de São Paulo, capitaneada por Gilberto Kassab, decidiu que certos hábitos precisam ser impostos aos cidadãos da cidade e cabe à municipalidade educar de forma coercitiva uma parte dos cidadãos. Digo uma parte, porque todas as culpas sobre os males da cidade parecem recair sobre os motoristas de carros.

Tudo bem, confesso que sou um ponto fora da curva. Não buzino, dou passagem a carros, motos e pedestres, dou sinal ao mudar de faixa e procuro não me estressar durante o trânsito. Tento ser consciente e minha última multa foi por ter me atrasado 5 minutos após o início do rodízio e fui flagrado por uma câmera que fica a 100 metros do escritório e que não concede tolerância. Meu rodízio, por sinal, é de segunda-feira e chego ao escritório antes das 7 da manhã. Mas as máquinas não aceitam tolerância e o prefeito também não.

Primeiro, Kassab determinou à CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) que reduzisse a velocidade máxima nos principais corredores de avenidas em 10 km/h.  Segundo o prefeito, a redução da velocidade reduziria o número de acidentes. Mas aparentemente apenas os carros reduziram a velocidade, as motos não e motociclistas continuam a morrer em quedas cinematográficas que são proporcionais à falta de bom senso que os guia. Os carros passaram então a ser multados, pois muitos não estavam acostumados com o novo limite de velocidade.

Agora vem a estória do pedestre e da faixa de segurança. A campanha foi tão agressiva que motoristas estão começando a ter pânico de faixa de segurança e de pedestre. Segundo a campanha da prefeitura, o pedestre deve ter preferência sempre. E se ele atravessar fora da faixa? A preferência é do pedestre. E se ele não respeitar a sinalização? A preferência é do pedestre. E se o pedestre atravessar com o sinal fechado? O motorista que se vire para dar preferência ao pedestre.

Não estou propondo uma caça aos pedestres, mas que haja equilíbrio e exigência de que o pedestre também respeite o motorista. Um pedestre que atravessa fora da faixa e surge do meio dos carros é um risco para o pedestre e para os motoristas. Se houver um acidente, a culpa será do pedestre. E este é o ponto: dos atropelamentos em São Paulo, quantos ocorreram por culpa de pedestres e quantos por culpa de motoristas - e é preciso separar o tipo de motorista (carro, ônibus, moto e caminhão)?

Uma simples medida de proteção ao pedestre seria ajustar o tempo dos semáforos para permitir o cruzamento da via com mais calma. Outra medida seria garantira a manutenção dos semáforos para pedestres, como o da foto que ilustra este post.

Sinto que o motorista que paga impostos e circula conforme as leis de trânsito, que faz inspeção veicular - São Paulo é única cidade que impõe mais este imposto disfarçado - é cada vez mais destituído de seu direito de circular pela rua. É preciso dar espaço a faixas exclusivas de ônibus e de motos, ter cuidado com os ciclistas e desviar de pedestres.

A boa e velha lição das aulas de estudos sociais no primário sobre cidadania e a importância da faixa de pedestre parecem ter sido olvidadas por adultos que sentem-se tomados do um novo poder outorgado pelo prefeito. Bom senso e uma boa campanha educacional - para motoristas e pedestres - seriam suficientes para iniciar o processo de mudança. Mudança de hábito não se faz com decreto, prefeito!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Crônica: Inspiração


"Quando a inspiração evapora, recorro ao teu olhar e me perco nesta imensidão." Era assim que ele me explicou, certo dia, a origem da vertente criativa para escrever e afirmou que era inesgotável. Nunca me disse de quem eram os olhos, se eram reais, fruto de uma paixão antiga ou brotados de um sentimento platônico.  Não precisava tê-los diante de si, pois parecia ter na imaginação o retrato perfeito dos olhos da musa. Com precisão microscópica, seria capaz de descrever a íris, a pupila, as pálpebras, os cílios. Não era, porém, do exterior que extraía a seiva da inspiração, mas do que conseguia ver por detrás daquele cristalino.

Os olhos eram como uma vitrine, uma janela, um portal que o convidava a mergulhar, que não aceitava apenas uma olhadela. Exigia um mergulho de corpo inteiro, de cabeça, sem cerimônia ou titubeios, sem amarras. O numeral oito deitado a formar uma aparente máscara na verdade retratava o infinito que se desvelava para o aventureiro corajoso a ingressar naquele universo. Infinito. Ou melhor, infinita a inspiração que emana daquele olhar.

Certa vez, num estado que parecia de transe, iniciou um belo discurso poético a louvar-lhe. Comparava o pingente com o símbolo do infinito cravejado de pequenas pedras aos olhos dela. Mais belos que o infinito, mais belos que a uma inesquecível orla marítima, mais belos que uma pintura de Van Gogh, mais belos que uma sonata de Mozart. E assim proferiu seu longo discurso de louvor, entediando os que o tinham por louco e arrancando suspiros e lágrimas das moçoilas que o ouviam. Repousava toda sua admiração e atração naquele misterioso olhar.

Um belo dia não compareceu à faculdade. Fomos informados de que seu coração parara de bater enquanto dormia. Ele nos deixou, mas a inspiração jamais morrerá e viverá em nossas memórias.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Epígrafe - XII

Cavalo, High Museum, Atlanta, EUA.


"(...) evidentemente os sonhos não enferrujam e tampouco as emoções que os acompanham (...)"

(Antonio Tabucchi. O tempo envelhece depressa. Trad. Nelson Moulin. São Paulo : Cosac Naify, 2010, p. 137)