quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sou amigo do Rei

Oliver Stone, aclamado diretor de cinema norte-americano, chegou ao Brasil no dia 31 de maio, no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Porém, Stone não tinha visto para ingressar no Brasil e foi barrado pela Polícia Federal. A notícia é do Estadão e também foi comentada por Reinaldo Azevedo.


- What do you mean I need a visa? I am here for important meetings and will meet Lula tomorrow! – poderia ter sido a fala de Stone querendo dar uma “carteirada” e imaginando que na verdade, ele vinha a um país onde tudo se resolve com jeitinho.

Foi o que ele fez. Ligou para Luiz Carlos Barreto, que produziu o fiasco “Lula, o filho do Brasil”, que ligou para Celso Amorim, que ligou para o Ministro da Justiça, que ligou para o Superintendente da Polícia Federal em Brasília, que passou um fax para a PF em Cumbica, que liberou a entrada de Stone no Brasil.

A corrente de ligações me lembrou Quadrilha, de Drummond, se bem que neste caso a quadrilha é de outro naipe, e não amorosa.

Stone conseguiu entrar, gravou um depoimento a favor de Dilma Roussef e fez uma palestra na FAAP, em São Paulo, para divulgar seu documentário “Ao Sul da Fronteira” onde aclama Hugo Chávez e outros malucos latino-americanos como libertadores e salvadores do povo. Parece ser um estilo Michael Moore de criticar o poderio dos EUA.

Até aí, respeito a visão política de Stone, como respeito a visão de James Cameron, diretor de "Avatar" e "Titanic", que veio defender a preservação da Amazônia. Curioso que nenhum deles deixa as benesses, os confortos e o dinheiro ganho nos EUA. É fácil dar pitaco no quintal dos outros quando se está confortavelmente instalado numa ampla residência.

Revolta-me a forma como o visto foi concedido, utilizando-se de contatos importantes no governo, algo que qualquer outro cidadão americano não teria acesso e seria retido na área internacional do aeroporto e enviado de volta no primeiro voo. O privilégio concedido a Oliver Stone só porque ele é amiguinho do molusco é inadmissível e retrata bem como este governo trata as pessoas: igualdade só para os amigos; para os inimigos, a lei.

Oliver Stone não tem passaporte diplomático, não está na condição de exilado ou perseguido político. Deveria, então, ter ido ao consulado brasileiro em Los Angeles – nos dias e horário em que funciona o consulado –, pago a taxa exorbitante cobrada e esperado o deferimento de seu visto, como faz qualquer mortal de passaporte norte-americano que queira ingressar no Brasil.

Por que ninguém fala de soberania agora? Por que ninguém se revolta com a carteirada arrogante de Stone?

Porque Oliver Stone é amigo do Rei.

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