segunda-feira, 21 de junho de 2010

Espelho paterno


Sentei-me diante dela na mesa da sala de jantar e, discretamente, passei a observá-la por cima da tela do notebook. Compenetrada, livros, cadernos e estojo organizados e dispostos simetricamente sobre a mesa. Tirou uma folha branca com exercícios de matemática e com um lápis bem apontado, deu vida a números que dançavam sobre o papel branco com uma rapidez e leveza que fiquei surpreso.


Não tardou a terminar a resolução dos problemas e pediu que eu conferisse. Apenas um deles estava errado. Releu o enunciado e descobriu o erro sozinha. Apagou a resolução e refez o trabalho.

Durante pouco mais de trinta minutos, ela ficou imersa na lição de casa, concentrada, mergulhada nos estudos. Questionei-me se, na mesma idade, tinha tanta facilidade com o dever de casa, com a resolução dos problemas, com o estudo do ciclo da cana de açúcar. Conclui que não. Conclui que ela é muito mais inteligente que eu e muito mais dedicada e organizada. Ela não era mero reflexo do pai, mas uma pedra lapidada e apurada.


Depois do jantar, sentou-se no meu colo para me ajudar com o Sudoku do jornal. E disse:

- Gosto de ver você resolvendo estes problemas.

O coração de pai ficou derretido pelo elogio filial.

Ao deitar-me à noite, rememorei estes fatos que devem ter passado despercebidos por ela, mas que ficaram gravados naquela tarde. Momentos assim merecem ser preservados, e são preservados na memória. Ficarão guardados neste blog, e quem sabe um dia, ela os lerá.

Um comentário:

Luciana Betenson disse...

Lindo Rê :-) Não tem emoção maior na vida que gerar e criar filhos. Eu acho. Um beijo,