sexta-feira, 11 de junho de 2010

A beleza da Divina Comédia

A DIVINA COMÉDIA

Canto I

"A meio caminhar de nossa vida
fui me encontrar em uma selva escura:
estava a reta minha vida perdida.


Ah! que a tarefa de narrar é dura
essa selva selvagem, rude e forte,
que volve o medo à mente que a figura.


De tão amarga, pois mais lhe é a morte,
mas, pra tratar do bem que enfim lá achei,
direi do mais que me guardava a sorte.


Como lá fui parar dizer não sei;
tão tolhido de sono me encontrava,
que a verdadeira via abandonei."

(Tradução Italo Eugenio Mauro. São Paulo : Ed. 34, 2009, p. 33-4)

Assim começa o texto clássico de Dante Alighieri, no meio do caminho, provavelmente uma alusão à metade da vida, o narrador encontra-se num momento de escuridão, de dúvida, de incerteza. Li A Divina Comédia na juventude; reencontrei-me com o texto novamente no meio do caminho.

Na juventude, a dúvida da meia-idade parecia distante e algo incompreensível, mas ao reler o primeiro Canto, pude compreender a razão do texto clássico ser atual e um clássico atemporal. Jorge Luis Borges afirmava que é um livro que todos devemos ler. Não faz parte dos livros obrigatórios de vestibular e raramente algum jovem o terá lido. Os clássicos ocidentais parecem ter sido desprezados e relegados a um segundo plano, leitura apenas de quem gosta de literatura, de quem encontra na literatura um momento de reflexão silenciosa.

Escrito no século XIV, a Comédia é uma obra magna, magistral. Setecentos anos se passaram desde que foi escrita e tem inegáveis traços de atualidade, como todo bom livro clássico. A atualidade, a universalidade lhe  garante o rótulo de clássico.

O caminho da vida tem momentos de escuridão, de angústia, de incerteza. Tema que já inspirou alguns textos que estão neste blog, e tema que aflige a todos nós em momentos diferentes da vida. Qual caminho a seguir? Qual decisão a tomar?

Dante está inquieto pois encontra-se na selva onde a virtude é desprezada, onde a retidão, a ética, a honra são esquecidas; a honestidade desprezada; a aparência elogiada; a ostentação ganha ares de virtude e o ter predomina sobre o ser.

Guiado por Virgílio, Dante inicia uma jornada de reflexão e diálogo, um díálogo com sua consciência, para renascer da jornada revigorado e cheio de esperança.

Um comentário:

Isadora disse...

Reanato não cheguei a ler A Divina Comédia, mas conheço um pouco a história e o que mais impressiona é que vivemos da mesma forma, em um sociedade muito parecida, onde retidão e caráter andam em baixa e ostentação e luxúria em alta.
Contemporânea a narrativa, não é?
Um beijo