quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Crônica: O Barco




O BARCO

Sou um barco velho que repousa nas águas mansas de uma baía, atracado no píer. Meu casco de madeira traz as cicatrizes de praias rasas, de pedras pelo caminho, de abalroamentos com cais e atracadouros. Cicatrizes desenhadas e que formam símbolos indecifráveis para um desconhecido, mas que conheço cada detalhe de sua estória e de seu nascimento. Algumas foram remendadas; outras perduram e remanescem como uma lembrança de lutas e derrotas.


Sou um barco velho e cansado. Naveguei por águas turvas, por águas inquietas, por águas remansosas. Naveguei em dias de céu claro, de sol forte, ao longo de margens límpidas e repletas de folhagens verdes. Naveguei na escuridão da noite, guiado pelo luar e pelas estrelas que pontilham a abóbada celeste. Naveguei em dias de chuva, de tormentas, de ventos cortantes como uma navalha e com frio polar. Naveguei sem rumo, apenas para acompanhar aquele que me guiava no leme com mão firme. Naveguei ao bel prazer da correnteza, deixado-me levar. Naveguei em alto mar, em longas jornadas para recônditos desconhecidos e inexplorados. Naveguei em busca de algo que não imaginava, mas que se concretizou por fruto do acaso. Naveguei incansavelmente, dias e noites, esperando avistar terra, um farol, uma luz. Naveguei no silêncio e no barulho das ondas. Naveguei para te encontrar.

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