quinta-feira, 17 de julho de 2008

Crônica: Expectativa




EXPECTATIVA


O avião pousou e naquele instante o iPod começou a tocar uma música que ela tanto gostava. Sincronia perfeita, trilha sonora ideal se aquela cena fizesse parte de um filme. Fez parte do filme da minha vida, ainda que haja poucos espectadores e a maioria das cenas sejam reproduzidas em exibições privadas. Mas Sara Bareilles iria combinar perfeitamente como música de fundo para um pouso no Santos Dumont em dia ensolarado.

Desembarquei com calma e remarquei minha volta. Ela não precisa saber disto. Não me importa a taxa de remarcação que a companhia aérea cobrou. Importa-me aproveitar cada minuto ao lado dela, qualquer segundo, qualquer instante. Olhei no relógio e imaginei que amanhã neste horário estaria com ela. Peguei um táxi e rumei para Copacabana. Na Barata Ribeiro, avistei uma mulher de costas que se parecia com ela. O sinal fechou e não consegui ver o rosto. Convenci-me de que não era ela pelo jeito de andar. Sinto-a perto, muito perto.

Recebo a chave do quarto 501 do hotel. Abro a cortina da sacada, saio na varanda e minha vista é para a rua e para a esquina da Siqueira Campos com Domingos Ferreira. Fico paralisado, sorrindo. Meu olhos são atraídos para aquela esquina de imediato e viajo no tempo, rumo ao passado. Novembro de 2006. Dia 23 de novembro, quinta-feira. Lembrei-me da data. Da sacada, avistei-a caminhando pela rua, rapidamente, já com a noite caída. Pouco antes de ler meu email e responder com uma mensagem no celular. A memória é poderosa para as coisas importantes e sempre ressurgem para inundar a alma de alegria. É muito bom estar Rio, penso com um suspiro de alegria. Saudades incontidas me atiçam.

Sento-me na varanda e sinto a leve brisa do mar que afaga meu rosto, como uma carícia dela. Olho as pessoas, o movimento, alguns pássaros planando sobre o mar. Pessoas idosas, velhinhos e velhinhas com suas sacolas de supermercado, alguns turistas indo à praia com seus trajes facilmente identificáveis, os táxis com sua coloração típica. Um despojamento tão diferente de São Paulo. De terno e gravata, sinto-me um estranho numa cidade que me arrebatou. E tudo por culpa dela.

Levanto os olhos e o céu está azul, sem nuvens. Azul anil. Antecipo a noite enluarada e estrelada. Mas ainda há que esperar e conter a expectativa. Pouco mais de 24 horas e quem sabe mais uma noite inquieto, mergulhado em conversas mentais e sonhos. Olho o relógio e num ímpeto levanto-me da cadeira e do devaneio, apesar da pouca vontade de enfrentar as reuniões que me aguardam. Poderia ficar horas saboreando estes delírios no meio do dia que sempre tem nela a personagem principal.



Um comentário:

Lila Rose disse...

Nossa, que delícia esse texto. Pelo visto sua vinda ao Rio foi bastante agradável, meu amigo...rs

Bisous e uma ótima semana.