Metal Rosicler foi publicado em 1960. Este é o primeiro poema do livro:
1
Não perguntavam por mim,
mas deram por minha falta.
Na trama da minha ausência,
inventaram tela falsa.
Como eu andava tão longe,
numa aventura tão larga,
entregue à metamorfose
do tempo fluido das águas;
como descera sozinho
os degraus da espuma clara,
e o meu corpo era silêncio
e era mistério minha alma -
- cantou-se a fábula incerta,
segunda a linguagem da harpa:
mas a música é uma selva
de sal e areia na praia,
um arabesco de cinza
que ao vento do mar se apaga.
E o meu caminho começa
nessa franja solitária,
no limite sem vestígio,
na translúcida muralha
que opõem o sonho vivido
e a vida apenas sonhada.
(Canções. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2005, p. 147)
A ausência pode não ser física, mas interior. Mergulhada na alma, imersa na metamorfose, pronta para ressurgir e iniciar a nova aventura. Mudar sem deixar vestígio, sem deixar que "a tela falsa" pintada pelos outros influencie "a vida apenas sonhada", imaginada na aparência, mas distante da realidade.
A realidade é única, mas perceptível em sua integralidade, apenas por quem a vive. Os espectadores sempre desenharam na "tela falsa", notando por vezes a ausência, mas jamais compreendendo a ausência em sua completude.
Um comentário:
Ai ausencia de alma....
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