terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Mutações Carnavelescas

Última noite de um carnaval tranquilo, com clima ameno e cinza. Exceção feita ao sábado, onde o sol brilhou em São Paulo como há muito não brilhava. De resto, tempinho de latitudes temperadas. Mas vamos ao assunto. Vou falar de tempo, mas não de clima.


Fui um carnavalesco fanático. Desde os tempos de criança, gostei de carnaval, dos bailes, das marchinhas, do samba. O carnaval mudou, assim como eu que ganhei uns bons anos a mais. É interessante reparar como o carnaval em São Paulo mudou drasticamente. A cidade ganha um ar de cidade-fantasma, com um carnaval estritamente profissional. Poderiam dizer que é a cara de São Paulo.


Quando era criança, nos anos 80, era comum passarmos o carnaval no sítio, em São Roque, e retornar na 3a. feira pela manhã para aproveitar a matinê do Pinheiros, um tradicional clube paulista. Os pequenos ficavam no mezanino do salão de baile. O sonho era poder descer e pular o carnaval com os maiores, coisa que só possível quando fiz 12 anos. Era uma época em que os clubes realizavam bailes de carnaval muito concorridos, num ambiente relativamente tranquilo e comportado, tanto matinês como bailes noturnos. Estes bailes praticamente acabaram em São Paulo. Descobri, pelos jornais, que só o Juventus realizou bailes de carnaval este ano e não achei matinês para as crianças.


Outra manifestação popular que acabou foram os blocos de rua. O Guéri-guéri era um tradicional bloco dos Jardins e que saía todo ano no sábado anterior ao carnaval. Desapareceu por falta de local para desfilar. Outro evento era o Folia na Faria. Durou uns 5 anos e acabou pelo mesmo motivo. Em 1996, fiz uma maratona carnavalesca: sábado saí no Guéri-guéri, e domingo, no Bloco da Bolsa de Valores no Folia na Faria. Foi divertidíssimo e ainda por cima apareci num flash da TV Globo para o Jornal Nacional - pelo menos, foi o que me contaram.


Os blocos acabaram pelas inúmeras reclamações de moradores da cidade. O barulho, a sujeira, as interdições nas ruas, enfim tudo era problema. O paulistano ficou chato. Quer silêncio e sossego no carnaval, tanto que foge da cidade. Acho triste que os blocos e bailes tenham sumido, blocos que proliferam no Rio de Janeiro.


O carnaval de São Paulo ficou profissional, restrito aos desfiles do sambódromo para turistas e alguns poucos artistas. Chateia-me o fato de que meus filhos não compartilharão das marchinhas, do confete e da serpentina, da bagunça sadia do carnaval.


O carnaval de sampa não é mais o mesmo, coisas do progresso, coisas da modernidade. Mas triste a modernidade que esquece o passado, a tradição e a cultura popular.

2 comentários:

Fabiola disse...

hum.... era bom mesmo.
Mas vc sabe que sinto falta de blocos mesmo.
No cambuci tem um,.... mas não sei como é
Como fazer essa garotada gostar de carnaval?

Edna Federico disse...

Sabe que quando li essa matéria, falando sobre o único baile de carnaval na cidade ser no Juventus, pensei a mesma coisa que você: que saudade!
Eu ia muito a bailes de carnaval quando criança, adolescente...era tudo muito família, delicioso.
O ano passado ainda levei meu filho numa matinê que achei, mas não é a mesma coisa.
Os clubes, no interior de SP ainda fazem bailes.