COPO D´ÁGUA
Os lençóis grudavam em seu corpo. Despertou do sono pesado com o calor da madrugada, apenas aliviado pela leve brisa do ventilador ao pé da cama. As gotículas de suor molhavam seu pescoço, as costas e embebiam o travesseiro. Jogou as pernas para fora da cama, desvencilhando-se dos lençóis. Abriu e fechou os olhos algumas vezes, atordoado pela sonolência que ainda pesava.
Pôs-se de pé e rumou para a cozinha, tateando no escuro, em silêncio, os pés descalços saboreando as tábuas do chão que guardavam o calor do dia. Tinha descoberto o prazer de andar descalço, ou melhor, redescoberto. Ao chegar em casa, dispensava chinelo ou qualquer calçado: preferia ficar com os pés a acariciar o solo. Coisa de criança poderia dizer alguém, mas ele não se importava. Rejuvenescia com este simples gesto, despia-se dos trajes talares, deixava de lado a fantasia e o personagem que encenava na vida profissional. Ultimamente vinha se questionando, revendo idéias e preconceitos. Aos 32 anos, reavaliava o sucesso profissional, reavaliava a falsidade e a malícia que o cercavam em seu ambiente de trabalho que mais parecia uma floresta tropical, com feras e índios, com caçadores inescrupulosos e senhores que melhor se situariam em uma corte européia do tempo do imperador.
Abriu a geladeira e buscou a garrafa de água gelada. Tomou no gargalo, afinal estava sozinho em casa. Ninguém ia saber, ninguém iria recriminá-lo. A água gelada desceu por sua garganta aliviando o calor da madrugada abafada. Vários goles. Sua língua percorreu os lábios enxugando-os, num movimento instintivo. Deixou a garrafa de lado e ergueu a mão, encostando-a nos lábios cerrados, frios e úmidos. Um arrepio percorreu-lhe a espinha, um sentimento de saudade tomou-lhe todo o ser.
Imóvel, no escuro completo da noite, foi acometido de algo estranho. Saudade de algo que nunca tivera, que nunca provara, que nunca recebera, que nunca ganhara. Um nó formou-se no peito e os dedos deslizaram pelos lábios, como se fosse ela a tocar seus lábios. Podia sentir o gosto – ainda que imaginário -, podia vê-la diante de si, como naquela foto em que sorria de lado com o rosto virado como que o convidando a ir a ela. Podia sentir o toque da mão dela acariciando a sua mão. A pele sedosa e suave, delicada, sempre mais fria que a dele. O olhar com um brilho todo dela. Era saudade que jorrava e aumentava o desejo de tê-la perto. Era saudade de um beijo que nunca recebera. Incontrolável anseio por um beijo que nunca provara. Ainda.
Pôs-se de pé e rumou para a cozinha, tateando no escuro, em silêncio, os pés descalços saboreando as tábuas do chão que guardavam o calor do dia. Tinha descoberto o prazer de andar descalço, ou melhor, redescoberto. Ao chegar em casa, dispensava chinelo ou qualquer calçado: preferia ficar com os pés a acariciar o solo. Coisa de criança poderia dizer alguém, mas ele não se importava. Rejuvenescia com este simples gesto, despia-se dos trajes talares, deixava de lado a fantasia e o personagem que encenava na vida profissional. Ultimamente vinha se questionando, revendo idéias e preconceitos. Aos 32 anos, reavaliava o sucesso profissional, reavaliava a falsidade e a malícia que o cercavam em seu ambiente de trabalho que mais parecia uma floresta tropical, com feras e índios, com caçadores inescrupulosos e senhores que melhor se situariam em uma corte européia do tempo do imperador.
Abriu a geladeira e buscou a garrafa de água gelada. Tomou no gargalo, afinal estava sozinho em casa. Ninguém ia saber, ninguém iria recriminá-lo. A água gelada desceu por sua garganta aliviando o calor da madrugada abafada. Vários goles. Sua língua percorreu os lábios enxugando-os, num movimento instintivo. Deixou a garrafa de lado e ergueu a mão, encostando-a nos lábios cerrados, frios e úmidos. Um arrepio percorreu-lhe a espinha, um sentimento de saudade tomou-lhe todo o ser.
Imóvel, no escuro completo da noite, foi acometido de algo estranho. Saudade de algo que nunca tivera, que nunca provara, que nunca recebera, que nunca ganhara. Um nó formou-se no peito e os dedos deslizaram pelos lábios, como se fosse ela a tocar seus lábios. Podia sentir o gosto – ainda que imaginário -, podia vê-la diante de si, como naquela foto em que sorria de lado com o rosto virado como que o convidando a ir a ela. Podia sentir o toque da mão dela acariciando a sua mão. A pele sedosa e suave, delicada, sempre mais fria que a dele. O olhar com um brilho todo dela. Era saudade que jorrava e aumentava o desejo de tê-la perto. Era saudade de um beijo que nunca recebera. Incontrolável anseio por um beijo que nunca provara. Ainda.
2 comentários:
Lembrou Florbela Espanca que diz que sente saudades nem sabe bem de que...
Beijos
Sim, acho que em algum momento da vida todos nós já sentimos saudades "não sei do que".
Bela crônica.
Beijo
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