quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Presépio





Os caminhos devem nos levar ao presépio nestes dias de Natal. Ouvi de um sacerdote a recomendação, o bom conselho, de que deveríamos usar o tempo de Natal para meditar diante do presépio, contemplar a cena, refletir, conversar com Deus menino na manjedoura. Na primeira vez, não compreendi o que isto significava, nem a razão de ser da tradição de se montar presépios nas casas e nas igrejas.

A tradição do presépio remonta a 1223, quando São Francisco de Assis criou o primeiro presépio vivo, com personagens reais, na sua igreja de Grecchio, na Itália. Este piedoso costume medieval espalhou-se rapidamente e chegou aos nossos dias. Na casa de minha avó, o presépio com peças de louça italiana ganhava um lugar de destaque ao lado da árvore de natal. Desde pequeno, ajudei a montar um presépio com peças italianas artesanais e de muito bom gosto, que se completavam com uma pequena construção de madeira a lembrar o estábulo na cena da natividade.

O presépio não era uma mera tradição, mas uma lembrança viva, o centro da comemoração da data natalina, a razão de ser daquele dia tão especial. Levado mais pelo embalo da tradição do que pela vivacidade da fé, comprei um presépio em Portugal, simples, apenas 3 peças, mas muito aconchegante. Desde que me casei, o presépio é montado numa mesinha de canto na sala, a Sagrada Família a nos observar.

Era dezembro, o presépio montado em seu lugar habitual. Minha filha havia nascido em maio e tinha pouco mais de 6 meses de vida. Sempre chorava muito antes de dormir. Chorava até ficar exausta e cair no sono, o choro era a sua luta constante contra o descanso. Numa noite, embalava-a na sala, luzes quase todas apagadas, o silêncio era cortado apenas pelo choro ensurdecedor e desesperador da pequena no meu colo. Caminhava de um lado para outro, cantando baixinho alguma cantiga de ninar. O choro não cedia. Ela parecia renovar forças e berrar mais alto, irritando-me cada vez um pouco mais. Tentei ser paciente, mas houve um determinado momento em que a paciência se esvai. Entendi a razão de ser de tantos infanticídios, de crianças abandonadas pelas mães, do estado puerperal tão falado em aulas de direito penal nos tempos de faculdade. Tive vontade de lançar aquela pequena criatura contra a parede tamanho o desespero que me dominava.

Então, avistei o presépio, como se a Sagrada Família estivesse ali a me observar, aguardando o momento exato para me chamar e me convidar a sentar-se com eles, naquele estábulo de Belém, naquela noite fria, onde todos lhe negaram hospedagem. Olhei a cena e fui tomado de uma paz inesgotável meditando sobre como Nossa Senhora, como Maria, como uma mãe se sentiria dando à luz a um filho ao relento, num estábulo, no inverno da região, sem ter o conforto de uma estalagem, sem ter comida e lugar para dormir e se abrigar.

Meditei naquele momento e entendi a importância do presépio. A paz inundou meu coração e pouco depois a pequena Ana parou de chorar e adormeceu. Devo ter ficado com ela no colo mais uma hora, apenas meditando e rezando diante do presépio. Deus me concedeu a alegria de entender um pequeno pedaço da dimensão do nascimento do menino Jesus em Belém.

A partir daquele ano, em que passei a entender melhor a importância de se montar um presépio, levei à risca a recomendação do sacerdote de meditar diante do presépio. E quanto bem me faz! Olhar para a humildade do menino Deus, para o silêncio e a discrição da cena, para o recolhimento e a paz interior de todos que ali passaram.

Que neste Natal, o amor inunde nossos corações e renove a fé e a esperança com a certeza de que Deus nos têm como seus filhos queridos e amados!

FELIZ NATAL A TODOS!!

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