Mona Lisa, no Museu do Louvre |
Paris foi
invadida por chineses. Bem, qual lugar do mundo não foi invadido pelos oriundos
do país mais populoso do mundo? Talvez, nenhum. Mas, aqui eles estão por todos
os lados, em grupos, em bandos, com guias turísticos, noivas posando diante da Torre Eiffel, de Notre Dame, na Pont des Arts. Nas Galerias Lafayette,
compram e consomem com a ferocidade de uma nuvem de gafanhotos a atacar uma
plantação verde e saborosa. Havia fila de chineses para aproveitar os descontos das bolsas
Chanel, Prada, Bulgari, Louis Vuitton, Longchamp por mais de alguns milhares de euros. Em oferta.
No Louvre –
e nos demais museus -, a coisa se torna mais grave e convida a um olhar crítico. Percorrem as salas do museu atrás das obras mais conhecidas. Param um
instante para fotografar, filmar, fazer selfies, e seguem adiante. Não há
contemplação, apreciação, reflexão, admiração. Tudo é digitalizado, instantâneo, como se a captação da
imagem em máquina digital permitisse representar toda a experiência da
contemplação de uma Mona Lisa, de uma Vênus de Milo, de uma Coroação de
Napoleão.
Correm pelo
museu, atropelando as pessoas, dando cotoveladas – e não pedem desculpas.
Infelizmente, a falta de educação predomina. Não tem qualquer restrição a tocar
na peças, nas esculturas e nos quadros. Furam filas e parecem viver numa
estrutura social própria onde as regras parecem valer para os outros e não para
eles que estão fora de seu país de origem e fingem não entender o que se passa.
Em um
determinado momento, perdi a paciência. Andava pela galeria dos pintores
italianos no Louvre, lotada, parecendo shopping no Brasil em época de Natal, e tentava
apreciar as telas quando fui arrastado pela onda vermelha. Como a maioria deles
eram mais baixos do que eu, interpus-me no meio da fila de uma excursão e
passei a caminhar bem devagar, quase parando. Pressenti o pânico atrás de mim.
Eram vários chineses tentando me ultrapassar e eu, como piloto numa prova de
automobilismo oscilava da esquerda para a direita impedindo a passagem. No fim,
eles me ultrapassaram, mas ficou claro que a ida ao museu fazia parte apenas de
um passeio onde não se apreciava nada, apenas carimbavam o passaporte e
poderiam dizer: “eu estive lá”, “eu vi a Mona Lisa”.
Na Torre
Montparnasse, um edifício moderno com um terraço panorâmico no 56o. andar, há
monitores com fotos da paisagem para que o visitante possa identificar os
edifícios no entorno com um toque na tela. Ali presenciei outra cena bizarra.
Um moço jovem fotograva a tela do computador ao invés da paisagem! Se ele
queria uma foto do computador, devia ter feito o passeio pelo Google e não precisaria ir até Paris. Qual o sentido de se viajar para um lugar e apenas registrar tudo em fotos, como se o mundo fosse apenas uma realidade virtual?
Sinceramente,
não consigo entender o objetivo destes viajantes. Visitam museus, marcos
históricos e monumentos apenas para tirar fotos. Creio que as devem postar nas
suas redes sociais e ostentar afluência numa ex-sociedade comunista. Será que
levam consigo um pouco da sensibilidade humana da cultura ocidental? Será que
algum deles compreende a razão da construção de catedrais e igrejas? Será que
conseguem penetrar na beleza de uma tela impressionista ou na leveza de um Rembrandt com seu jogo de luz? Tenho minhas dúvidas. Mas, volto com a sensação de que andei no meio
de uma nuvem de gafanhotos predadores.
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