sexta-feira, 4 de julho de 2014

Crônicas de uma viagem a Paris - I


Torre Eiffel

Um amigo - que me conhece muito bem - disse que eu iria adorar Paris. Ele tinha razão. Não me precipitaria em dizer que Paris roubou meu coração, este que ainda pertence a Barcelona, mas o charme da cidade me provoca a cada momento. A cidade flerta comigo, como só aquelas cidades com alma podem fazer. A cidade pulsa, provoca, desperta. 

Hoje o tempo mudou. Caminhei sozinho boa parte do dia e ao cruzar o Sena dei-me conta de que aquele momento era só meu, de alegria solitária, tomando chuva sem a menor preocupação numa Paris cinzenta e que me fazia transbordar num encanto silencioso. Afinal, a vida é feita de momentos e alguns deles se tornam memórias exclusivas, secretas. Outras estórias são compartilhadas, divididas, replicadas, multiplicadas e seguem na tradição oral, contadas e recontadas. Todos temos aqueles momentos que vão para os anais da família, que representaram discussões ou brigas e depois se manifestam em largas gargalhadas e gozações.

Gosto de descobrir os meus cantos, os meus lugares. Fujo do lugar comum, dos roteiros sugeridos por guias. Uso-os com parcimônia e cautela. Como diria um viajante americano, I like to wander, and wandering I find myself - or try to find myself.  Gosto de deixar meu olhar viajar sem pressa, como a imagem do homem lendo o jornal no ponto de ônibus, elegante e indo trabalhar, da mulher com sua baguete a caminho de casa, com os meninos sentados num café competindo para ver qual deles conseguia arrancar mais sinais de positivo dos passantes, do pequeno restaurante libanês onde o dono preparou-me um falafel fantástico  - lugar onde só consegui comer porque estava sozinho. 

O olhar do andarilho. Um olhar atento que ajuda a descobrir estórias, a imaginar estórias. Observar e andar. Acho que as pessoas subestimam a importância de andar, sem rumo, sem mapa, apenas andando e divagando. Andar ajuda-me a pensar, ajuda-me a descobrir, ajuda-me a ter inspiração. Por vezes a inspiração é desobediente, provoca o que não deveria, mas aquieto-a. Anoto as ideias para não desperdiçá-las e aos poucos vou deitando-as no papel. Fazia tempo que alguns dias não me despertavam tantas estórias. Paris está cheia delas prontas para serem salpicadas na folha branca de papel.

A vitrine de uma loja de máquinas fotográficas em Montmartre, a simpática portuguesa dona da boulangerie ao lado do hotel, cadeados dependurados nas pontes sobre o Sena, a infinidade de pagãos que fazem fila para visitar Notre Dame e Sacre Coeur, as poses ridículas de turistas ao redor da Torre Eiffel, as pessoas nos cafés e nos restaurantes, nos barcos deslizando pelo Sena, nos labirintos do metrô desta cidade que fala uma infinidade de línguas, uma Babel terrena.

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