Foi numa noite
recente quando a observei falar com
desenvoltura e segurança, os olhos traziam um brilho contagiante e as mãos
gesticulavam com intensidade. Nunca fora tímida. Sempre extrovertida e atirada,
muito falante, sorridente, revelando uma segurança tão própria dela, mas que
disfarçava um medo interior que era afastado com um pedido para segurar minha
mão ou um abraço longo.
Antes das competições de xadrez, não se sentava diante do
tabuleiro antes de me pedir um beijo de boa sorte e algumas palavras de
incentivo e confiança. Nos momentos de
dúvida, recorria a mim e o diálogo fluía leve e compreensivo, mesmo em temas
complexos, mesmo quando era preciso dizer não – e foram vários “nãos” -, mesmo
quando se tratava de algum tema mais espinhoso. Surpreendi-me no começo em como
era possível conversar com ela com tanta facilidade.
Era uma noite de sábado, percebi que a menina deixara para
trás a infância e adentrara na adolescência. Iria fazer 13 anos em breve e
reparei que naquela noite, seu jeito era diferente. Passamos por duas fases e
sinto que uma nova fase da paternidade se inicia. Ser pai é um desafio e um
constante aprendizado, um observar, um estar presente, um escutar constante, um
gesto de afeto e carinho, um beijo noturno para embalar o sono e os sonhos, um
ombro amigo quando a fragilidade infantil ainda se manifesta. Ser pai é antecipar gostos e adivinhar o
pensamento dos filhos, sorrir e abraçá-los quando o choro é inevitável, puxar
para cima, dar o exemplo. A lista é infindável. Cansativa? Não, reconfortante e
cheia de alegrias.
Mais um ano, mais um aniversário. Vejo-me como um trapezista
a balançar no trapézio, no alto do picadeiro, segurando a moça, olhando-a nos
olhos e preparando-me para soltá-la para
a vida, lançá-la em piruetas no ar,
confiante de que conseguirá atravessar o espaço e voar até o outro trapézio
agarrando-o com firmeza e vontade.
Minha filha fez 13 anos. Com ela aprendi a ser pai e com ela
aprendi que a paternidade (e a maternidade também) é um ato generoso de que Deus que permite a nós mortais participar no
processo de criação da vida.