segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Crônica: Se a noite falasse

SE A NOITE FALASSE

Se a noite falasse, se a noite contasse tudo o que ouve e tudo do que é testemunha, o mundo seria uma grande desordem. A noite assemelha-se à nossa consciência. Ouve pensamentos dos mais singelos, os mais puros e os mais abjetos.

Naqueles momentos em que a cabeça repousa sobre o travesseiro e fazemos, voluntária ou involuntariamente o exame de consciência, ou deixamos o devaneio tomar conta do estado de sonolência, levemente embriagado, a noite é nossa única testemunha. Alerta e onisciente, tudo escuta. 

Na noite, planejam-se os crimes mais horrendos, os assassinatos, os roubos, os latrocínios, a violência hedionda, os embriagdos que descontrolados agridem mulheres indefesas, que disparam armas de fogo, que empunham armas brancas e dilaceram a carne de um inimigo - ou de um amigo.

Na noite, o pobre apaixonado é tomado de coragem e bravura, pronto a declarar-se, a declamar o mais belo poema de amor sem titubear, gaguejar ou fugir do olhar da amada. O coração parece não conhecer o medo e a timidez, mas apenas a alegria de dar vazão às palavras que brotam do coração. 

Na noite, há silêncio, há calmaria. Todos dormem, menos eu. Observo atento o que meu interior quer me dizer. Escrevo e anoto. Para quando o sol rair, quando se fizer, reler o que pensado, e sóbrio, tentar encontrar a coragem perdida para abraçar o mundo e simplesmente falar. E fazer. E viver.

Nenhum comentário: