quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Bóiam leves, desatentos, de Fernando Pessoa



BÓIAM LEVES, DESATENTOS
Fernando Pessoa

Bóiam leves, desatentos
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
De copro morto das águas.

Bóiam como folhas mortas
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.

Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.

(Fernando Pessoa. Quando fui outro.  Rio de Janeiro : Objetiva, 2006, p.68)

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