quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quebrando o silêncio



"Um banco separado, provavelmente para a direção escolar. O silêncio de uma igreja, não, simplesmente o silêncio que importava, um silêncio que não poderia acabar com qualquer palavra. Um silêncio que transformava palavras em esculturas, monumentos do elogio, da advertência ou da sentença destruidora."
(Pascal Mercier, Trem Noturno para Lisboa. Trad. Kristina Michahelles, 3a. ed., Rio de Janeiro : Record, 2009, p.158)

Alguns temas me fascinam e se encadeiam sorrateiramente em posts inesperados. O silêncio é um destes temas que vivem passeando por este blog, e que foram objeto dos últimos posts. Seu entrelaçamento temático é inadvertido, não proposital. Talvez por que tenha dedicado mais tempo para refletir sobre o tema, ou talvez por que o tema tem pontuado minhas leituras. Enfim, o tema surgiu, aqui se instalou e agora amadureceu.

O trecho transcrito acima é do excelente livro de Pascal Mercier. Raimund Gregorius, professor de línguas clássicas em uma escola na Suíça, tem um encontro com uma mulher numa ponte a caminho do trabalho. A voz dela, a sonoridade do português arrebata-o e extirpa-o de uma rotina. Inicia-se uma viagem física, mas também interior do protagonista.

O silêncio permeia seus questionamentos e suas dúvidas, suas hesitações, seus medos. Gregorius é um homem solitário e sozinho. Os dois conceitos não são sinônimos. Solitário é aquele indivíduo que não tem ninguém ao seu redor; não tem amigos; não tem família. O indíviduo sozinho é aquele que pode estar rodeado de pessoas, mas carece do amparo humano. O indivíduo só é um homem mergulhado na solidão.

Mercier conduz seu leitor por uma viagem que aguça os sentidos. O professor de línguas prende-se ao som (audição), à forma como as palavras se organizam (visão), à delicadeza da capa de um livro (tato), ao perfume do novo e do velho (olfato) e ao gosto intragável de certas palavras e expressões (paladar).

Desta forma, o protagonista, tomado pela sonoridade de uma voz, encontra em seu âmago a coragem para quebrar grilhões e lançar-se em uma viagem para o novo. E tudo isto inspirado pela palavra.

Um comentário:

Rachel disse...

Amigo! Temos um gosto parecidíssimo pra livros. Eu adorei este! Embora tenha achado que começou prometendo mais... eu adorei! Especialmente as divagações do professor.

Já leu 'Como me tornei estúpido'? Sei não, mas acho que você vai gostar.

Ah, tem Skoob?