"De cabeça baixa, ele afaga os cabelos adormecidos da filha em seu colo. Então vê um tremor nas pálpebras delicadas, uma estreita fissura naquela invejável inconsciência, e assiste, silencioso, à evolução do seu despertar. Os olhos da menina ficam semicerrados por alguns momentos. Ela intui o carinho do pai e se mexe, acomodando-se melhor. Entreabre os olhos pela primeira vez, fechando-os rapidamente. Em seguida, um longo bocejo faz avançar a realidade, uma piscada tripla focaliza tudo um pouco mais e, por fim, as mãos pequenas e macias espremem do rosto os vestígios do sono. Ela abre os olhos aquecidos, enxergando bem de perto o pai, que a olha de volta, fazendo um grande esforço para sorrir com doçura. (...)"
(Outra Vida, Rodrigo Lacerda, Rio de Janeiro : Objetiva, 2009, p. 71)
Contemplar o sono pueril, seja no colo do pai ou no leito, é um ato de paternidade que só se compreende quando se é pai. Um trecho para comemorar o dia que se aproxima neste domingo.
2 comentários:
Ô retrato bonito esse que 'cê fez hein? Parabéns!
Beijo,
é verdade é linda a narrativa!
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