segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Coisa de criança


Ela estranhou quando ele pediu para ir novamente ao trabalho com ela ao invés de ficar brincando e aproveitando as férias. Mas as crianças são curiosas, muito curiosas. A companhia da mãe era o melhor programa para ele naquele dia de férias. Queria tê-la por perto, à sua vista, para a qualquer momento poder contemplar o belo rosto materno, compenetrado com o trabalho, o olhar fixo na tela do computador ou anotando algo numa agenda. Os olhinhos do pequeno observam tudo, captam tudo, até aqueles detalhes que já passam despercebidos pela mãe. A aflição natural que havia tomado conta dela quando ele insistiu em acompanhá-la foi substituída por um sentimento de ternura que se estendeu por toda aquela tarde. Sem dizer nada, sentiu-se orgulhosa do filho, do comportamento dele, um mocinho já. O ápice foi a companhia dele, um gesto de carinho filial , silencioso, mas que a fez sentir-se querida. Coisa de criança que sabe cativar e nutrir o coração materno.


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Sábado a tarde e ela queria que o pai a ensinasse a andar de bicicleta. Não queria a mãe, queria só o pai. Coisa de criança que não quer magoar, apenas escolhe aquele que lhe dá mais segurança, mais tranqüilidade. O pai era a serenidade em pessoa. Calmo, paciente, tinha a palavra certa na ponta da língua, compreendia as perguntas da filha e sabia o que responder. Ela vivia querendo que ele adivinhasse o que ela estava pensando, e ele sempre acertava. Tinham uma conexão telepática. A voz firme e tranquila deu à menina a segurança que ela almejava. Não caiu nenhuma vez. Não ralou o joelho. Não sofreu nenhum traumatismo craniano e nem precisou do capacete. Em pouco menos de trinta minutos, dava suas pedaladas sem rodinhas, num ziguezague titubeante, mas feliz com a conquista: estava andando de bicicleta sem rodinhas! A mãe ficou enciumada, mas a menina soube contornar o ciúme e acalmar os ânimos aflitos da mãe que assistia a cena. A menina estava saltitante e quis repetir a dose no domingo. Mas sem a mãe.

Um comentário:

Edna Federico disse...

É, os meninos tendem a ser mais ligados a mãe e as meninas ao pai...deve ser o instinto de competição dos sexos, que aparece logo cedo.
Beijo