quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Uma viagem pelo passado



Tatiana Salem Levy é uma jovem escritora brasileira, considerada uma das revelações na nova literatura contemporânea brasileira. A Chave de Casa é seu romance de estréia e foi lançado pela Editora Record em 2007. O livro foi inicialmente publicado em Portugal pela Editora Cotovia, numa coleção dedicada à nova literatura brasileira contemporânea.


A narrativa não é linear e os capítulos curtos se sobrepõem em diversos planos para contar a história dos antepassados da narradora. Há poucos nomes nos livros e os personagens não são identificados e descritos em detalhes. Há um enevoado sobre os protagonistas que somente se desfaz - e não totalmente - depois de alguns capítulos. O estilo narrativo é denso e exige atenção do leitor, que demora um certo tempo a perceber que a história corre em planos paralelos, planos de tempo diversos, que convergem no final para o tempo atual.


Algumas palavras permeiam toda a história de uma família que emigra da Turquia para o Brasil, foge para Portugal durante a ditadura e retorna ao Brasil. Medo, silêncio e passado. O primeiro sentimento está presente em todos os momentos temporais do livro. O silêncio é correlacionado com o medo, um medo do futuro, um medo de não estar em paz com o passado.


Neste drama humano, há passagens de uma riqueza narrativa belíssima, com poucos detalhes, mas muito emoção e intensidade. Ainda que haja um personagem masculino, a narrativa se dá basicamente do ponto de vista feminino, em conversas entre mãe e filha, onde esta expõe seus medos, aflições, angústias e desejos.


A memória, esfumaçada, imprecisa, é elemento constante na história, o que pode causar um pouco de confusão no leitor, mas que é usada de forma hábil pela escritora. O ponto de vista, a versão da narradora é contraditada pela mãe falecida, com quem conversa em pensamento. Estes diálogoso conduzem o leitor a refletir sobre pontos de vista diversos, sobre a ótica e o olhar, sobre a forma de ver as coisas.


Há uma semelhança entre a narrativa e a vida da autora, nascida em Lisboa, e que se mudou para o Rio de Janeiro com apenas 9 meses de idade. O romance é ficcional, mas há características autobiográficas na obra. Dificilmente o livro será um best-seller, mas é uma obra de grande qualidade literária.

2 comentários:

Fabiola disse...

hum deu vontade de ler

disse...

Vc é bom pra fazer propaganda de livro.. Passei na livraria na hora do almoço e dei de cara com ele. Resolvi folhear e os trechos que li me deixaram com vontade de mais. Pra variar, não resisti! Já vai pra mesinha de cabeceira pra ler antes de dormir.
Beijos