domingo, 9 de junho de 2013

Crônica: Tabuleiro da Vida



Os dados são lançados. Um passo adiante é dado e assim a casa das dezenas da idade é alterada no tabuleiro da vida. Quando se avança uma casa, não se retrocede, não há mais volta. O tempo é inexorável e não permite que o relógio seja reiniciado; o relógio corre, sempre, sem parar.

O constante passar do tempo, comemorado a cada ano, a cada aniversário, é motivo de celebração. Vencemos mais um ano, somos presenteados com um novo capítulo em branco, a ser preenchido com memórias, a ser escrito com decisões, emoções, alegrias, percalços, solavancos, saltos, conquistas, sorrisos, abraços, beijos, desejos. Comemorar mais um ano é celebrar a vida, a sobrevivência nesta selva moderna de tantas armadilhas.

Alguns se lamentam com a idade que avança; alguns se deprimem com a percepção de que somos finitos nesta passagem terrena e os quarenta anos são um indicativo de que já percorremos uma boa parte da jornada. Não sou exceção e também senti o peso dos anos, mas percebi que este período lança a luz da perspectiva sobre o passado e o futuro. Parece que subimos numa alta colina, sem conseguir avistar muito adiante, mas com plena visão do que ficou. E o que ficou é bom, muito bom.

Houve lágrimas, houve tristeza, houve momentos de desespero e indignação. Seria possível seguir adiante? Por que a vida se revela tão cruel comigo? As perguntas são respondidas pelo tempo, pelo nascer do novo dia, pela perseverança e determinação. As lágrimas servem para regar a vontade forte que brota de um coração gigante.

Amigos foram feitos, trazidos pelo acaso; filhos são gerados e nos dão um sentimento de legado, de permanência, de tradição de uma história pessoal; pais são valorizados e apreciados; os bens são relativizados e parece que ganham seu devido lugar na hierarquia das coisas; o transcendental dá sinais mais fortes, provocando-nos, sugerindo-nos de que a vida é efêmera e é preciso cuidar da alma.

A idade não é cruel, não rouba a beleza e a juventude. Pelo contrário, deixa a mulher mais plenamente bela, mais profunda, mais decidida, mais interessante. O brilho no olhar, a paixão pela vida, o sorriso sedutor, adentram o tabuleiro com força total, mais enérgicos, cativantes e encantadores. O invólucro cede ao conteúdo.


É possível passar horas admirando uma mulher em sua maturidade discorrer sobre qualquer tema. A beleza é sutil, discreta, natural. O encanto é delicado. A voz é despida da estridência tão própria da juventude e ganha um caráter aveludado, firme, compreensivo. Mentiria se dissesse que uma jovem mulher é mais sedutora ou interessante.  A idade e o tempo são generosos com quem sabe dar importância ao que realmente é importante. Sábia é a natureza, sábia é a vida, sábio é este jogo que jogamos no tabuleiro da vida.

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo texto tão lúcido e tão verdadeiro! Impossível não se enxergar no tabuleiro...

Renato disse...

Obrigado Polianna! Sempre bom encontrar comentários por aqui e elogios sinceros são ainda melhores! ;)