quarentena em SP |
Publicado pela primeira vez em 1795, o breve livro de Xavier de Maistre (1763-1852) é um exercício de risonha subversão de hierarquias, sejam elas militares, metafísicas ou literárias. Zombando das circunstâncias, o autor transforma os quarenta e dois dias de castigo em ponto de partida para uma paródia dos relatos de viagem, algo que se encaixa muito bem em tempos de quarentena, lockdown e pandemia.
O breve livro foi minha companhia no mês de setembro de 2020, enquanto passava os minutos, as horas, os dias ao lado de minha mãe em um leito de UTI em São Paulo.
Eis alguns trechos:
"As horas deslizam sobre nós e se precipitam em silêncio pela eternidade, sem nos fazer sentir sua triste passagem." (p. 13)
"Uma cama nos vê nascer e nos vê morrer, teatro inconstante em que o gênero humano encena, dia após dia, dramas interessantes, farsas risíveis e tragédias espantosas. - A cama é um berço enfeitado de flores; - é o trono do amor; - é um sepulcro." (p.14)
"Essa vantagem me fez desejar que se inventasse um espelho moral, em que todos os homens pudessem se ver com seus vícios e virtudes. Cogitei mesmo propor a alguma academia que instituísse um prêmio por tal descoberta, quando reflexões mais maduras me provaram sua inutilidade." (p. 42)
(Maistre, Xavier de. Viagem ao redor do meu quarto. trad. Veresa Moraes. São Paulo : Editora 34, 2020)
3 comentários:
Muito bom! Estava com saudade de te ler, e resolvi vir ver se havia algo novo. ❤️
Seus textos levam-me alhures 💖
Obrigado pelo comentário e fico muito contente de que minha escrita te leve a sonhar e a viajar.
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