Entrei despercebido na sala e permaneci no corredor, apoiado no batente da porta, um observador silencioso e quase invisível. Ele estava sentado no sofá, pernas cruzadas sobre a almofada, o livro no colo, a cabeça curvada sobre aquele tesouro descoberto recentemente. Seus lábios moviam-se, titubeantes, e sussurravam as palavras.
Absorto por completo num mundo novo, tomado por algum dragão, diante de alguma aventura, num barco ou dentro de uma nave espacial, voando ou divertindo-se com alguma estripulia do personagem.
Permaneci alguns minutos a observá-lo, um leve sorriso esboçado, mas silencioso. As fotos, na prateleira sobre o sofá, denunciavam como ele tinha crescido. Crescera diante dos meus olhos, dia a dia. Dou-me conta deste crescimento em momentos como este, de comunicação silenciosa, entesourados na memória, guardados no coração, para serem recontados num almoço de família, num momento a sós, de intimidade entre pai e filho.
Com toda naturalidade, levantou a cabeça e lançou a pergunta:
- Pai, o que é devaneio?
Respondi prontamente, contendo a alegre coincidência, mas quase lhe dizendo que devaneio é um momento mágico em que você sonha acordado, como agora.
Um comentário:
Belo texto para celebrar o dia dos pais! Pai tb curte o filho.
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