segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Crônica: Um Apelido

UM APELIDO

Osvaldo era o nome dele. Não gostava do seu nome. Desde criança, sentia-se incomodado porque nunca tivera um apelido como os outros meninos e meninas. Seu nome não era propício a este tipo de brincadeira. Alguns apelidos eram infantis, sem dúvida, mas outros permaneciam com a pessoa por toda a vida. Lembrou-se de sua primeira quedinha por uma menina, na pré-escola -pré-primário naquela época. Ela sentava-se na frente dele e tinha longos cabelos castanhos, sempre arrumados num rabo-de-cavalo ou maria-chiquinha. Ninguém a chamava pelo nome completo, a não ser quando levava bronca. Aí vinha o nome com sobrenome. Nada de apelido. Dani. E continua sendo Dani depois adulta. Dani, sim, era um apelido meigo, feminino, carinhoso. Não era pejorativo e criava um certo tom de informalidade. Era divertido chamar os outros pelo apelido. Era um jeito de ser mais um da turma, de fazer parte - e de excluir os de fora também!

Tinha a Cris, o Fred, o Zé, o Marquinhos, o Beto, a Carol...todos amigos e colegas de escola. Na faculdade, os apelidos já eram mais malandros, mais maldosos, e pior que pegavam. Tinha o Jaspion, o Cebola, o Chaminé, o Bacate (derivado de apelido, pois o coitado adorava abacate). Mas para Osvaldo, nada!

Nem o sobrenome dava para abreviar. Era Silva. Bem que o pai poderia ter post um Júnior no nome dele, mas aí ele se chamaria Evilásio. E qual o apelido de Evilásio? Vil? Não ia ficar bem. Evil? Péssimo. Já pensou se ele fosse a um país de língua inglesa com a família. Iam achar que ele era um bruxo ou algo do gênero.

Viveu sempre sem apelido. Ressentido, inconformado. Havia desistido de procurar um, até que um dia, seu netinho tropeçou nas palavras e o chamou de Vavá! Osvaldo encheu-se de alegria. O neto havia lhe dado um apelido e um enorme sorriso. Ganhara com o apelido, uma nova personagem. Encheu-se de si e a partir daquele dia, só deixava que o chamassem de Vavá.

Um comentário:

Edna Federico disse...

Diferente esse conto.
Esse negócio de apelido pega mesmo, né?
Eu tenho alguns, que me acompanham desde criança.