terça-feira, 5 de novembro de 2019

A treva, de Adélia Prado



Foto: Alta noite, Renato Bueloni Ferreira


A TREVA
Adélia Prado


Me escolhem os claros do sono
engastados na madrugada,
a hora do Getsêmani.
São cruas claras visões,
às vezes pacificadas,
às vezes o terror puro
sem o suporte dos ossos
que o dia pleno me dá.
A alma desce aos infernos,
a morte tem seu festim.
Até que todos despertem
e eu mesma possa dormir,
o demônio como a seu gosto,
o que não é Deus pasta em mim.

(Poesia Reunida, 2a. ed. Rio de Janeiro : Record, 2016, p. 249)


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