segunda-feira, 21 de março de 2016

Carlos Drummond de Andrade : Ontem


Pinacoteca de São Paulo, instagram @rbueloni


ONTEM

Até hoje perplexo
ante o que murchou
e não eram pétalas.

De como este banco
não reteve forma,
cor ou lembrança.

Nem esta árvore
balança o galho
que balançava.

Tudo foi breve
e definitivo.
Eis está gravado

não no ar, em mim,
que por minha vez
escrevo, dissipo.

(A Rosa do Povo. 7a. ed. Rio de Janeiro : Record, 1991, p. 58-9)

No Dia Mundial da Poesia, palavras de Drummond para que todos escrevam, dissipem e leiam poesia.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Epígrafe - XXXV



"A los quince años me inicié en la enseñaza en una escuela rural, sola, sin familia. En ese ambiente impregnado de tristeza y de silencio empecé a escribir; él me hizo espiritualmente lo que soy. Su influencia definitiva en mi alma."

(Gabriela Mistral. Vivir y escribir. Prosas autobiográficas. Santiago de Chile : Ediciones Universidad Diego Portales, 2013, p. 99)

Este trecho foi escrito  por Gabriela Mistral em 1925. A poetisa chilena nasceu em 1889, em Vicuña, e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1945. Faleceu em Nova York em 1957.

O ambiente rural é descrito como duro, áspero, triste. Não é nada bucólico, nem leve. O trabalho no campo é pesado. Os alunos, pode-se imaginar, deviam frequentar a escola apenas por alguns anos e depois abraçavam no trabalho no campo para ajudar as famílias. O dinheiro curto. A diversão inexistente. Gabriela Mistral mergulha no mundo melancólico de sua adolescência e transpõe tudo para sua escrita, para sua poesia.

A tristeza, a dificuldade forjam o caráter, lapidam a alma e dão fortaleza àqueles que não sucumbem diante dos infortúnios e dos percalços do caminho.