SENHOR, EU
NÃO SOU DIGNO
Para que
cantarei nas montanhas sem eco
As minhas
louvações?
A tristeza
de não poder atingir o infinito
Embargará
de lágrimas a minha voz.
Para que
entoarei o salmo harmonioso
Se tenho na
alma um de-profundis?
Minha voz
jamais será clara como a voz das crianças
Minha voz
tem a inflexão dos brados de martírio
Minha voz
enrouqueceu no desespero…
Para que
cantarei
Se em vez
de belos cânticos serenos
A solidão
escutará gemidos?
Antes ir.
Ir pelas montanhas sem eco
Pelas
montanhas sem caminho
Onde a voz
fraca não irá.
Antes ir –
e abafar as louvações no peito
Ir vazio de
cantos pela vida
Ir pelas
montanhas sem eco e sem caminho, pelo silêncio
Como o
silêncio que caminha…
(Vinicius de Moraes. As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 37)
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