Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro - @rbueloni |
Adentramos o mês de março e é impossível não lembrar do
início da pandemia. Lá se vão 5 anos desde que fomos obrigados a manter o distanciamento
social, ficamos trancados em casa, fomos impedidos de viajar e explorar o
mundo. A vida se reduziu a espaços limitados. Todo ano relembro do início da
pandemia e do mundo distópico que se materializou diante de nossos olhos.
Muitos sucumbiram. Outros ignoraram. Outros ainda – acho que a maioria – saíram
mais fortes, mais conscientes da nossa fragilidade, mais gratos pela vida.
Neste início de ano percebi um outro dado que tem me levado
a uma reflexão mais profunda e a uma mudança de atitude. Percebi que a
distância temporal entre a virada do século e o tempo provável que me resta de
vida são equidistantes. 25 anos transcorreram desde o início do século e do bug
do milênio (aquela catástrofe que não se concretizou) até o dia de hoje. E
somando 25 anos à minha idade, provavelmente em 2050 estarei próximo da minha
finitude. Isto me incomoda? Isto me assusta? Nem um pouco, apenas me fez
refletir. O tempo é fugaz e há certas coisas que não vale a pena postergar, há
certas atitudes que preciso mudar e há certos momentos em que não devo me calar,
não devo deixar para depois, pois talvez não
haja um depois.
Se tudo parece-lhe confuso, calma que vou tentar me explicar
e unir os dois parágrafos acima.
A pandemia deixou suas marcas e mudou alguns hábitos. O
trabalho remoto passou a ser algo usual, a preocupação com a saúde deixou de
ser algo a ser adiado, novas tecnologias foram incorporadas e as pessoas foram
tomadas por um desejo constante de viajar e explorar e descobrir novos lugares.
O dinheiro passou a ser utilizado de forma mais desapegada. Guardar para
sempre? Não, gastemos um pouco, pois não se sabe quanto tempo teremos até a
próxima pandemia.
O fato é que alguns dos nossos hábitos mudaram. O nosso
mindset – para usar um termo moderninho – mudou. Tenho viajado muito mais.
Prefiro viajar e adiar a troca de um veículo. Fiz um check up e confirmei o que
já suspeitava: tenho pressão alta e o colesterol também. Vou começar a usar
medicamento de uso contínuo. Sinal da idade. Passei a fazer caminhadas 3 vezes
por semana e agora vou iniciar treinos de força, ou a boa e velha academia. Estudos
demonstram que estes treinos ajudam a preservar a memória, além de garantir um
envelhecimento de qualidade.
E o que isso tem a ver com inspiração e exemplo e pandemia e
novos hábitos?
Dizem que as palavras movem e o exemplo arrasta. O exemplo
arrasta e inspira novos hábitos. Muitas vezes estes novos hábitos são
introduzidos por inspiração de pessoas que nos cercam. Algum amigo que faz
exercício e te convida para ir à academia, por exemplo. Ou aquela amiga que
posta todo dia um treino na academia. Estes exemplos me motivaram a começar com
as caminhadas matinais. E ao invés de apenas seguir o exemplo, resolvi
agradecer e contar para estas pessoas que o exemplo delas me motivou.
Enquanto pensava neste texto, lembrei-me de um exercício que
fiz de escrita criativa numa oficina da Terapia da Palavra. A proposta do
exercício era escrever uma carta para um chefe, um familiar, alguma pessoa que
tenha sido importante influência em nossas vidas. Resolvi escrever a carta para
meu primeiro chefe, Dr. Luiz Vergueiro, com quem aprendi muito sobre o trabalho
do advogado e a postura profissional. Achei que ia ser difícil escrever, mas
percebi que ao me debruçar sobre aqueles anos iniciais de estágio, muitos
detalhes vieram à mente. A carta nunca foi enviada, mas sugeriram-me que a
enviasse. Percebi como fui inspirado pelo exemplo e como aprendi com aquele
sócio de um grande escritório de São Paulo.
E novas inspirações têm vindo neste começo de ano. Quem sabe
planejar um período sabático em algum país distante? Quem sabe virar um nômade
digital e perambular por países do leste europeu? Até brinquei com uma amiga
que quero ser igual a ela quando crescer...ou melhor, quando envelhecer.
A mudança deste começo de ano foi que comecei a falar mais,
a agradecer as pessoas, a compartilhar estas inspirações, a elogiar condutas.
Parei de calar e passei a falar, ainda que possa parecer besteira ou que seja
um elogio banal e corriqueiro, ainda que seja uma aparente coincidência ou
fruto do acaso. Você nunca sabe quando um elogio ou uma palavra amiga pode
mudar o dia – e quiçá a vida – e o ânimo de uma pessoa. Por que não olhar ao
redor, observar e deixar-se levar por bons exemplos? O tempo é curto. A vida é
curta. Sejamos pessoas que semeiam sorrisos e esperança. Afinal, a esperança caminha
de mãos dadas com a alegria.
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